A banda - 1


Não toco nada e canto muito mal, mas preciso montar uma banda. A formação de um conjunto musical é a garantia de tempos sexualmente ativos com esforço intelectual mínimo para a conquista da fêmea. Basta uma pose ensaiada no palco, um corte de cabelo desleixado e roupas idem. Toco ou finjo que canto durante uma hora e meia e pronto, escolho uma das gatinhas próximas ao palco e a levo para um local mais confortável onde eu possa mostrar todo o talento de meu Djavan para a moça.

- Alô.

- Alô, é você que tava procurando um baterista?

- Sim, sou eu.

- Tudo beleza? Meu nome é Mirtes, toco na noite tem uns anos e to sem banda. Você quer montar banda de que?

- Pera lá, seu nome é Mirtes, mas você tem voz de homem...

- Pois é, eu sou homem...

- Já pensou em usar um apelido? A banda vai ser de rock, como é que vamos apresentar um baterista chamado Mirtes?

- Pô cara, eu não tenho apelido...

- Vamos arrumar um! Você é gordo, magro, alto, baixo?

- Cara, você vai me barrar por causa do nome e sem me ouvir tocar?

- Mas você não quer um apelido?

- Não, eu gosto do meu nome.

- Mas cara, seu nome é Mirtes!

- Homenagem da minha mãe.

- Pra quem? Pro seu avô? Não me diz que o nome dele era Mirtes...

- Não, era uma personagem da Suzana Vieira, minha mãe é fã.

- Cara, na real é o seguinte: eu não toco nada, canto mal pra cacete e ainda não tenho nem o nome da banda, quero formar uma simplesmente pra comer mulher e não posso ter um baterista chamado Mirtes porque vão pensar que a banda é uma piada, sacou?

- Eu sei fazer todas as viradas do Rappa, se a banda é de rock você vai ter que tocar o Rappa.

- Não vai ser banda cover, mesmo assim, quem disse que O Rappa é rock?

- Você que vai cantar? Vocalista que não canta O Rappa não come ninguém.

- O Mick Jagger não sabe nem o que é Rappa e comeu a Luciana Gimenez, entre outras centenas.

- É, mas comeu até o David Bowie, é isso que você quer? Olha lá cara...canta comigo agora “A minha alma tá armada e apontada para cara do sossego...”

- Chega Mirtes, porra! Você tem todo o equipamento? Vamos marcar um ensaio, tá bom assim?

- Sem apelido?

- Sem apelido e sem Rappa.

- Mas por que?

- Porque a banda não é cover, porra!

- Mas até a Maria Rita canta O Rappa.

- Grandes merdas.

- Só uma vai? “Me deixaaaaaa, que hoje eu tô de bobeira, bobeiraaaa...”

- Mirtes, o ensaio é hoje às oito, não se atrase. Tchau.

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Propaganda é sacanagem


Depois de toda a micareta promovida em paraísos fiscais caribenhos com dinheiro de origem mais desconhecida que banda de rock independente, não sei porque ainda me impressiono com a cara de pau de alguns colegas publicitários.

O expediente de buscar sacadinha para comercial de TV em piadinhas de salão era comum. O problema é que depois da internet, todo mundo passou a ter acesso às mesmas referências e o que antes poderia soar como mérito criativo de uma agência, agora tende a ser um tremendo mico.

Ontem, no intervalo de um Flamengo X Santos que estava mais para Piraporinha X Atlético Jabaroca, assisti pela primeira vez a um comercial do Bradesco Seguros que se utiliza desavergonhadamente de uma dessas curiosidades que circulam por e-mail, mas que ninguém sabe se é verdade.

Os incêndios florestais são comuns na Califórnia e, inclusive, fazem parte do ciclo natural de renovação da floresta. Para combatê-los, normalmente são utilizados grandes helicópteros que buscam água no mar para jogar sobre o os focos de incêndio. Numa dessas viagens, um helicóptero teria capturado por acidente um mergulhador que curtia suas férias nas águas do pacífico próximas dos grandes incêndios.

A historinha reaproveitada no comercial faz parte do Darwin Awards, um site que elege anualmente as mortes mais estúpidas do mundo e classifica esta do mergulhador como uma lenda urbana.

A propaganda, como qualquer outro trabalho que envolva criação, se utiliza de referências anteriores que os criadores julguem pertinentes para uma nova criação. Nada mais comum. A bronca neste caso específico do comercial do Bradesco Seguros, é que a história que deu origem à idéia é uma piadinha de internet (desgastada e manjada) aproveitada NA ÍNTEGRA, sem nenhum adicional de criatividade da agência. Ora bolas.

Já que o assunto é propaganda, vejam aqui a nova campanha de incentivo ao uso de preservativos que está rolando em Portugal. E nós brasileiros achando que somos avançadinhos. Se uma campanha dessas rola por aqui ia ser um show de falso moralismo pra tudo quanto é lado.

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Eu não confio em:


- Pessoas que não gostam de rock.

- Quem nunca tomou um porre e fez merda.

- Mulheres virgens após os 18.

- Seres que não possuem um endereço de e-mail.

- Homens que têm fotolog.

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Papéis


- Você vai encontrar um monte melhores que eu, não iguais ou necessariamente melhores, mas muitas outras que por outros motivos você vai achar tão interessantes quanto eu.

- Mas quem disse que eu quero achar?

- A questão é que você tem que achar. Quanto tempo falta para você perceber que nós não vamos ficar juntos?

- Nunca mais? Nem um beijinho?

- Nem selinho.

- Mas e o que faço com esse monte de planos aqui? A casa antiga sem paredes e com um estúdio nos fundos, O labrador caramelo (Luís Fernando Veríssimo), o home theater com TV de plasma de 29”...

- Não lembrava do home theater...

- É pro videogame.

- ...

- Mas por que não?

- Já não tínhamos conversado sobre o videogame?


- Vai ficar na sala, juro que não jogo no quarto.

- A casa vai ser sua, jogue onde quiser.

- É, lembrei que entramos no assunto porque perguntei o que fazer com esse monte de planos.

- Desculpe, mas você deixou a piada pronta. Nem vou me dar o trabalho de fazer.

- Qual piada?

- Sobre onde meter esse monte de planos.


- Ah...verdade.

- Sempre lento.

- Deveria existir algum sistema de compensação para casos como o nosso.

- Desenvolva.

- Tipo, você apareceu na minha vida e...

- Não, não, quem deu em cima foi você, ou seja, tecnicamente você apareceu na minha vida e não o contrário, isso muda o seu raciocínio, seja lá qual for.

- Como eu ia dizendo, apareci na sua vida, me interessei, achei você linda, inteligente, divertida, apaixonantemente mal humorada e irritantemente próxima do que sempre idealizei. Obviamente, passei a amar você, mas, como podemos perceber pelo teor desta conversa, o contrário não aconteceu.

- Até aqui um gênio, e?

- E aí que depois de você os meus parâmetros de avaliação foram involuntariamente alterados. Agora não encontro mais nenhuma tão inteligente, tão divertida ou com um sorriso mais bonito. Isso é uma colossal sacanagem, porque tudo bem, você não tem culpa de não me amar como eu amo você, mas onde diabos eu vou achar outra dessas e que goste de mim? Seus pais ao menos poderiam ter feito outros modelos iguais. Não, pensando bem pra que? Se fossem modelos iguais, elas provavelmente me rejeitariam também.

- Mas meu cabelo não é preto, você sempre disse que gosta de mulheres com cabelos pretos.

- Viu? Você é tão perfeita que não é perfeita.

- Eu amo praia, você odeia.

- Fora de questão. Todo mundo ama praia, o esquisito sou eu.

- Gosto muito de você, mas não deu cara, entende.

- Papinho horrível, heim? O que devo fazer agora, formar uma dupla sertaneja e escrever músicas de corno?

- Não, sua voz é horrorosa e você tocaria violão pessimamente.

- Eu gosto da sua voz.

- “é de moleca”, você mesmo disse.

- Uma das primeiras coisas que eu disse.

- Palhaço.

- Sim, quando distribuíram os roteiros eu fiquei com esse papel.

- Não pode trocar?

- Não sei, nunca perguntei.

- O que falta?

- Eu decidir se quero continuar interpretando. Palhaços não morrem no final.

- Mas nem sempre terminam felizes, lembra do Didi nos Saltimbancos?

- Verdade, ficou vendo a banda passar. Mas se de repente o roteiro dá uma virada e o palhaço vira herói e cata a mocinha no final?

- É um risco grande você esperar até o final da história.

- E geralmente heróis são mais altos e fortes.

- Esse é o clichê, mas roteiristas adoram substituir clichês por outros clichês, e existe também o clichê do herói em que ninguém aposta, mas que surpreende no final e termina com a mocinha.

- Hummm, concordo. Mas espera, quem disse que a mocinha é você? E se estivermos interpretando equivocadamente e na verdade a palhaça é você por ainda não ter percebido que eu sou o mocinho?

- Se eu sou a palhaça não posso ser a mocinha, portanto, você vai encontrar a sua princesa mais lá na frente.

- Mas se sou o herói eu mando nessa porcaria de história e quero a palhaça já! Portanto, mude sua marcação de cena agora e faça o favor de atracar seus dois braços em mim deixando seu pescoço à mostra para que eu possa beijá-lo.

- Frase patética essa sua, típica do palhaço. Definitivamente você não é o herói.

- Talvez nós dois sejamos palhaços.

- Então não tente mais me beijar porque vamos borrar as maquiagens.

- Eu não me importaria, combinaria com a minha blusa. E convenhamos, um casal de palhaços seria no mínimo simpático.

- Tenho que ir.

- Acompanho você até o carro, mas não tente me beijar na despedida, já dei chances demais por hoje, você não merece mais.

- Pretensioso. O que faz você pensar que eu beijaria?

- Nada, só uma leve esperança, você curtia beijar na janela do carro na hora da despedida.

- Palhaço, com certeza.

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Classe média


Deixando de lado as ações violentas em si e a resposta (ou falta dela) por parte do Estado, o que me deixou impressionado e até mesmo decepcionado, foram as opiniões que ouvi pela cidade.

Comentários simplórios e imediatistas, muitas vezes autoritários, são até esperados de quem tem pouca instrução ou não possui acesso à informação, mas são constrangedores quando saídos da boca de quem possui um curso superior ou julga-se bem informado a respeito do assunto em questão. No caso, a estapafúrdia, porém tragicamente previsível guerra urbana a que São Paulo está sendo submetida.

A essa altura você já deve ter sua opinião formada sobre a desgraça que rolou por aqui e eu também não tenho ânimo para dizer nada a respeito, mas tropecei neste gracejo aqui e achei interessante. O arranjo é algo de Ivan Lins e João Bosco misturados, mas com letra de Titãs dos anos 80. Reflete um pouco da minha perplexidade com o que andei escutando.

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11 dicas para se virar em uma novela


Não estou conseguindo pensar em nenhuma porcaria nova. Enquanto isso, encho sua paciência com textos velhos de tempos imemoriais. Este também saiu no contundente www.ressacamoral.com

1 - Se você é um dos protagonistas aproveite pra beijar bastante o amor da sua vida até o 3º capítulo, depois disto vocês só vão tirar um sarro de novo nos 3 últimos.

2 - Está dirigindo um carro antigo (Voyage, Chevette, Kadett, etc) e começou a ser perseguido? Despeça-se desta vida. Na próxima curva você cairá de um precipício ou baterá o carro que, como todos sabemos, vai explodir.

3 - Vilões só possuem 3 destinos possíveis: a cadeia, a morte ou a loucura. O único que conseguiu escapar foi Reginaldo Faria em Vale Tudo, sabe-se lá porque. Se você for um dos malfeitores, tente comer ou dar pro diretor, pode ser que você se livre dessa.

4 - Começar a novela pobre pode ser um ótimo sinal caso seu personagem seja bonzinho. Lembre-se: pobres bonzinhos terminam ricos, já os pobres malvados...bem, você sabe: cadeia, cemitério ou manicômio.

5 - Você é feio, mas seu personagem está pegando uma gostosona? Cuidado, você provavelmente é um dos alívios cômicos da novela e sofrerá males como disfunção erétil, dúvidas sobre sua sexualidade entre os vizinhos ou será corneado impiedosamente.

6 - Você é feia e está se agarrando com um dos galãs? Aqui vale também o caso do alívio cômico masculino, mas provavelmente é um erro de roteiro. Mulheres feias em novelas geralmente interpretam empregadas domésticas, a amiga pobre da protagonista ou trabalham em algum estabelecimento comercial de propriedade de um dos personagens principais.

7 - Tossir em cena pode lhe render um câncer terminal na trama. Evite com balas de gengibre e bastante remédio para garganta.

8 - Nunca, jamais, nem a pedido de Santa Maria de Sapopemba, mexa com crianças ou idosos em novelas. Roubar pirulito do Zequinha ou colocar uma almofada peidofônica na poltrona do vô Jurandir só vai lhe deixar 3 destinos possíveis: xadrez, caixão ou hospício.

9 - Trabalhar é sempre a melhor maneira de progredir na vida. Mesmo que seja vendendo sanduíches na praia, trabalhe, trabalhe sempre que você vai terminar rico. Assim como na vida real, sabemos que ricaços espertalhões sempre se dão mal e acabam na cadeia, enquanto pobres trabalhadores e sem instrução ascendem socialmente apenas com o fruto de seu esforço individual.

10 - Vai brigar? Fique tranqüilo, mesmo que não tenha nenhuma instrução profissional de lutas, a ação é sempre muito lenta e, se você for o mocinho, terá tempo de sobra para reagir e por a nocaute até meia dúzia de bandidões que estão sempre com a guarda baixa e a região estomacal e o rosto desprotegidos.

11 - Não esqueça: sexo não faz suar, abuse.

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Notas históricas


Os chatos atacaram os cossacos, apoderando-se das sombrias regiões baixas. Ócio, que no primeiro momento resolveu esperar pela ocasião mais oportuna para a retomada, acabou aliando-se ao inimigo, atitude própria dos fracos.
Como era de se esperar, a convivência entre as partes desgastou-se com o tempo. Feridas foram abertas. Os dedos, que funcionavam como intermediários diplomáticos da relação, corrompidos por Ócio, retiraram-se do campo quando já não se faziam mais necessários, abrindo espaço para Polvilho. Este permaneceu nos escrotos por certo período até o fim das animosidades e conseqüente retirada dos chatos.
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Com Falo nas linhas de frente, recomeçava a batalha dos gêmeos Escrotos pelo domínio de Útero. Apesar da pouca resistência nos grandes portões de entrada, Útero contava com um longo, escuro e tortuoso caminho a lhe proteger frente à fúria avassaladora de Falo que, mais uma vez esbaforido, desistiu da conquista e baldeou seus zigotos para que tomassem a direção que bem entendessem.
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Os sórdidos se espalhavam por toda a Infâmia. Liderados por Rufião, o bobo, eram habilidosos nas artes do estelionato. Aliaram-se aos dissimulados e conquistaram toda a península da luxúria, desde os campos molhados até o golfo telúrico.
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Titubeio era um líder equivocado. Sua hesitação causou a perda da farinha para os gabirús na guerra do pirão, nas planícies da panacéia. Vendo seu inimigo enfraquecido, Manjericão ordenou que seus batalhões de pederastas marchassem sobre os tomates e pisoteassem os quiabos.

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5 músicas do metal farofa que eu gosto


Texto também disponível no entediante Ressaca Moral (o de lá tem foto)

O metal farofa dos anos 70 e 80 foi uma das quatro coisas mais absurdamente irrelevantes que aconteceram na música do século 20 (as outras três foram o grupo MPB4, o disco ao vivo de Oswaldo Montenegro e o casamento do mesmo com Paloma Duarte). Apesar de essencialmente ridículo e obtusamente estúpido, o metal farofa ou hair metal, é um gênero especialmente divertido, principalmente para quem foi criança ou adolescente na década de 80.

Este colunista, sem vergonha de assumir seu passado descerebrado e onanista, até mesmo porque as coisas não mudaram muito deste passado pra cá, elege deliberadamente e sem critério algum, cinco canções significativas do gênero heavy-farofeiro que o fazem ir às lágrimas ou baldear.

We’re not gonna take it – Twisted Sister
O refrão cantando em tradicional corinho-de-banda-metal-farofa é um dos mais empolgantes da década. Dependendo do seu estado etílico ao escutar o hit de 1984, seu rompante de euforia roqueira pode ser tão forte que você pode até acreditar que o rock’n’roll ainda salvará o mundo ou que um time carioca conseguirá novamente ser campeão da primeira divisão. É o tipo de música que você precisa ter no seu computador, vá baixar agora!

The Final Countdown – Europe
Uma das introduções mais bregas e legais de toda a história (que sob efeito de cigarros esquisitos pode durar mais de 46 minutos), a canção foi utilizada até mesmo em propaganda de alistamento das forças armadas, sim, forças armadas brasileiras. Para completar a cafonice, a banda possui nome de motel de segunda e seu vocalista parecia um travesti de terceira, como era comum aos conjuntos farofeiros da época.

Jump - Van Halen
Os teclados da clássica introdução de Jump, ao mesmo tempo que são fofos, também possuem o efeito de despertar um sorriso em quer que seja. Um sorriso sincero e nostálgico por um lado, debochado e envergonhado por outro. Já que, depois de marmanjo, você assiste a um clipe do Van Halen e tem a impressão de que a banda era uma espécie de É o Tchan da época. O vocalista David Lee Roth não deixa nada a dever à Carla Perez do início de carreira em matéria de ridicularidade capilar e falta de senso rebolativo, sem falar dos figurinos. Ao menos Eddie Van Halen se vestia melhor que Compadre Washington.

Lick it Up – Kiss
Veteraníssimos da picaretagem, o Kiss nunca se levou a sério e, por isso mesmo, continuará sendo ótima trilha sonora para o ápice de animadas festas de apartamento, excelente para as horas onde ninguém mais está ligando para a beleza da pessoa que acordará ao seu lado pela manhã. Lick it Up é o primeiro hit da fase esquecível da banda, quando resolveram tirar a pintura do rosto e sorrateiramente assumir o visual traveco-drag vigente na época. A letra, apesar de infame e cara-de-pau, é um petardo de ingenuidade perto das acefalias do R&B e Hip Hop americano de hoje em dia. Pelo amor do seu Deus, você precisa ver o clipe desta música, baixe na internet.

Liar – Yngwie Malmsteen
Malmsteen é um daqueles guitarristas virtuosos que podem dedilhar 359 notas por segundo em solos mais enfeitados e cheios de penduricalhos que um carro alegórico da Mocidade Independente de Padre Miguel. Liar é um exemplar empolgante e dos mais farofáveis do sueco (Viu? A suécia também deu ao mundo algo além do Abba e de atrizes pornôs lindas e gostosas), a música pode ser encontrada no disco Trilogy de 1986 e abrindo o alegre registro ao vivo Trial By Fire, de 1989. Um outro asterisco para Malmsteen no quesito capa: o orçamento apertado de produção do guitarrista certamente não deixou grana suficiente para contratar um bom capista.

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Santo MSN


Camila diz:
Outra vez ele disse que todos os dias pensava em mim e ouvia uma música que achava ser a minha cara.

D0da diz:
E então?

Camila diz:
Aí ele mandou a música, era do padre Antonio Maria.

Camila diz:
O nome era “ninguém te ama como eu”, versão ao vivo.

D0da diz:
Jesus...

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Reflexão inócua


A propaganda inócua é sempre a última a saber. Aquele tipo de piadinha, aquela malícia (ou falta de) no redigir do trocadilho, a tentativa de surpreender. Tudo chega por último no reino sem sal dos inócuos, que também pode ser chamado de terra dos medíocres.

O problema começa em um comportamento comum à maioria da sociedade: o comodismo. Não apenas aquele que nos impede de dizer umas verdades na cara do chefe ou discutir a relação com a namorada, mas o comodismo intelectual. Comportamento que não deveria ser tolerado entre profissionais que dizem trabalhar com comunicação.

Esse comodismo é aquela preguiça ou total falta de costume de ler umas resenhas e procurar um bom roteiro, ao invés de alugar um daqueles filmes com clichês no lugar dos nomes, tipo “Férias muito loucas”, “Meu cachorro é do Barulho” ou “Perseguição Implacável”. Um bom criador de propaganda inócua também não leu mais do que 4 livros ano passado e acha que aquilo que o Barão Vermelho toca é rock. Em resumo, para o inócuo, é mais fácil pegar alguns estereótipos de inteligência já construídos e declarar seu gosto pessoal por estes, daí Chico Buarque ou Luís Fernado Veríssimo se transformarem em gênios muito conhecidos, mas pouco apreciados. Já o conhecimento político do inócuo se resume a dizer que “nenhum presta”, e ele pode até estar certo nisso, o problema é que sua opinião dificilmente passa destas duas palavras.

Paradoxalmente, a propaganda inócua também pode ser feita por quem não entende absolutamente nada de como funcionam empresas e seus processos internos de decisões. Assim como pessoas que entendem demais estes processos e, por isso mesmo, fazem a propaganda inócua, com o intuito de abanar o rabo para o, quer dizer, satisfazer o cliente.

Criar uma propaganda inócua é basicamente simples e os profissionais que a produzem são bem baratinhos, inversamente proporcionais aos lucros dos donos de agências porque, por incrível que pareça, tem um monte de empresários e diretores de marketing doidinhos para aprovar uma criação inócua.

A boa propaganda placebo começa pelo atendimento/planejamento que adora arrotar umas palavras em inglês, leu Kotler, mas não o Lula Vieira e acha que o Cartoon Network é um canal para crianças. Esse é o cara que chega do cliente cheio de dados, pesquisas, observações e recomendações. A criação recebe o famoso briefing do que e para quem deve criar, este momento é decisivo. Redatores que não conseguem escrever textos com mais de 10 linhas ou diretores de arte que não sabem citar ao menos um desenhista de quadrinhos, dificilmente vão criar algo fora de uma fórmula “pessoas bonitas que tenham o perfil do público-alvo consomem o produto em situação de extrema felicidade do qual o mesmo é o grande motivador”.

Mas digamos que os criadores sejam bem preparados e comandados por um bom Diretor de Criação. A campanha ficou legal, até se utiliza de alguns elementos manjados na comunicação deste segmento, mas possui um bom conceito e uma idéia que pode colar na cabeça do consumidor se mídia e verba do cliente ajudarem. O obstáculo agora é a cabeça do atendimento, que precisará entender que a gracinha no título do anúncio não é a reencarnação de Odete Roithman. E não, a solução não é uma frase na linha do “compre porque é o melhor e o preço é bacana”.

Mesmo que vença o atendimento, a campanha ainda terá de enfrentar o sadismo do cliente ou dos clientes, dependendo de quantas pessoas estarão envolvidas no processo de aprovação. Muitas empresas convidam o estagiário do marketing, o gerente de vendas e às vezes até o cara da informática para participarem das reuniões com a agência. Quanto mais gente opinando em uma reunião dessas, mais inócua a propaganda vai ficando. A tendência, e isto é tão óbvio quanto corriqueiro, é a campanha virar algo genérico, sem riscos, sem sal, sem açúcar.

“Por que o garçom que resmunga não aparece sorridente?” Alguém pergunta. “É mesmo, ele pode passar alguma coisa negativa pro consumidor”. Alguém responde. Outra pessoa opina contra a piadinha que os argentinos fazem com os brasileiros no comercial. “Pode parecer muito pesado”. Outra voz lembra de uma frase do briefing que “pode ficar legal no lugar dessa locução que está apelativa demais”. E haja rasura no roteiro, tesourada nos títulos, lipoaspiração nas peças de mídia exterior e por aí vai. A campanha, que já não era lá essas coisas, agora está perfeitamente adequada ao briefing, seguindo todas as linhas de pesquisa, respeitando todas as premissas do politicamente correto e tomando cuidado para não ofender as mínimas sensibilidades de quem quer que seja, consumidor ou não. Em outras palavras, mais simples e diretas (como as cabeças inócuas gostam): uma merda.

Um filme que está no ar atualmente e ilustra bem o que é uma campanha inócua é o do cartão de crédito Visa. Aquele onde três brasileiros dividem a mesa com dois argentinos e todos não passam de bobocas, felizes, educadamente forçados, como se em toda mesa de amigos assistindo futebol fosse comum alguém soltar aquelas frases. Você pode dizer, “ué, mas se é inócuo, como é que todo mundo lembra do comercial e da marca do anunciante?”. Superexposição. Apenas e tão somente. A Visa é uma das patrocinadoras do futebol da Globo e o comercial veicula mais do que “Fuga de Nova York” no SBT dos anos 80. Outra pessoa pode dizer “tudo bem, superexposição explica, mas se fosse ruim, não ficaria na cabeça do consumidor”. Então complete aquela música: “bota a mão no joelho, dá uma abaixadinha, vai mexendo gostoso...”, viu só? Qualquer porcaria fica gravada na cabeça de qualquer um, é só você escutar, ver ou ler à exaustão que fica.

Ou seja, se qualquer droga veiculada trocentas mil vezes fica na cabeça do consumidor mesmo, porque não colocar algo que preste na cachola dele ao invés de comunicação com cara de piada do Zorra Total? E se o cliente não tem verba suficiente para rodar o comercial trocentas vezes na TV ou colocar um anúncio por semana na veja, por que não arriscar e procurar algo inteligente a dizer e não precisar, necessariamente, colocar imagens pasteurizadas de executivos ou famílias européias estrelando anúncios, imagens que provavelmente serão rebaixadas de categoria quando o receptor deparar com uma idéia mais inteligente à sua frente.

Essas reflexões me fazem ter certeza que eu deveria ter aprendido a tocar guitarra decentemente. Eu poderia estar viajando pelo mundo, enchendo a cara todo dia, comendo modelos famosas, xingando políticos e deixando essas preocupações para alguém que estivesse mais a fim de enfrentá-las.

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