Papéis


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- Você vai encontrar um monte melhores que eu, não iguais ou necessariamente melhores, mas muitas outras que por outros motivos você vai achar tão interessantes quanto eu.

- Mas quem disse que eu quero achar?

- A questão é que você tem que achar. Quanto tempo falta para você perceber que nós não vamos ficar juntos?

- Nunca mais? Nem um beijinho?

- Nem selinho.

- Mas e o que faço com esse monte de planos aqui? A casa antiga sem paredes e com um estúdio nos fundos, O labrador caramelo (Luís Fernando Veríssimo), o home theater com TV de plasma de 29”...

- Não lembrava do home theater...

- É pro videogame.

- ...

- Mas por que não?

- Já não tínhamos conversado sobre o videogame?


- Vai ficar na sala, juro que não jogo no quarto.

- A casa vai ser sua, jogue onde quiser.

- É, lembrei que entramos no assunto porque perguntei o que fazer com esse monte de planos.

- Desculpe, mas você deixou a piada pronta. Nem vou me dar o trabalho de fazer.

- Qual piada?

- Sobre onde meter esse monte de planos.


- Ah...verdade.

- Sempre lento.

- Deveria existir algum sistema de compensação para casos como o nosso.

- Desenvolva.

- Tipo, você apareceu na minha vida e...

- Não, não, quem deu em cima foi você, ou seja, tecnicamente você apareceu na minha vida e não o contrário, isso muda o seu raciocínio, seja lá qual for.

- Como eu ia dizendo, apareci na sua vida, me interessei, achei você linda, inteligente, divertida, apaixonantemente mal humorada e irritantemente próxima do que sempre idealizei. Obviamente, passei a amar você, mas, como podemos perceber pelo teor desta conversa, o contrário não aconteceu.

- Até aqui um gênio, e?

- E aí que depois de você os meus parâmetros de avaliação foram involuntariamente alterados. Agora não encontro mais nenhuma tão inteligente, tão divertida ou com um sorriso mais bonito. Isso é uma colossal sacanagem, porque tudo bem, você não tem culpa de não me amar como eu amo você, mas onde diabos eu vou achar outra dessas e que goste de mim? Seus pais ao menos poderiam ter feito outros modelos iguais. Não, pensando bem pra que? Se fossem modelos iguais, elas provavelmente me rejeitariam também.

- Mas meu cabelo não é preto, você sempre disse que gosta de mulheres com cabelos pretos.

- Viu? Você é tão perfeita que não é perfeita.

- Eu amo praia, você odeia.

- Fora de questão. Todo mundo ama praia, o esquisito sou eu.

- Gosto muito de você, mas não deu cara, entende.

- Papinho horrível, heim? O que devo fazer agora, formar uma dupla sertaneja e escrever músicas de corno?

- Não, sua voz é horrorosa e você tocaria violão pessimamente.

- Eu gosto da sua voz.

- “é de moleca”, você mesmo disse.

- Uma das primeiras coisas que eu disse.

- Palhaço.

- Sim, quando distribuíram os roteiros eu fiquei com esse papel.

- Não pode trocar?

- Não sei, nunca perguntei.

- O que falta?

- Eu decidir se quero continuar interpretando. Palhaços não morrem no final.

- Mas nem sempre terminam felizes, lembra do Didi nos Saltimbancos?

- Verdade, ficou vendo a banda passar. Mas se de repente o roteiro dá uma virada e o palhaço vira herói e cata a mocinha no final?

- É um risco grande você esperar até o final da história.

- E geralmente heróis são mais altos e fortes.

- Esse é o clichê, mas roteiristas adoram substituir clichês por outros clichês, e existe também o clichê do herói em que ninguém aposta, mas que surpreende no final e termina com a mocinha.

- Hummm, concordo. Mas espera, quem disse que a mocinha é você? E se estivermos interpretando equivocadamente e na verdade a palhaça é você por ainda não ter percebido que eu sou o mocinho?

- Se eu sou a palhaça não posso ser a mocinha, portanto, você vai encontrar a sua princesa mais lá na frente.

- Mas se sou o herói eu mando nessa porcaria de história e quero a palhaça já! Portanto, mude sua marcação de cena agora e faça o favor de atracar seus dois braços em mim deixando seu pescoço à mostra para que eu possa beijá-lo.

- Frase patética essa sua, típica do palhaço. Definitivamente você não é o herói.

- Talvez nós dois sejamos palhaços.

- Então não tente mais me beijar porque vamos borrar as maquiagens.

- Eu não me importaria, combinaria com a minha blusa. E convenhamos, um casal de palhaços seria no mínimo simpático.

- Tenho que ir.

- Acompanho você até o carro, mas não tente me beijar na despedida, já dei chances demais por hoje, você não merece mais.

- Pretensioso. O que faz você pensar que eu beijaria?

- Nada, só uma leve esperança, você curtia beijar na janela do carro na hora da despedida.

- Palhaço, com certeza.


5 Responses to “Papéis”

  1. Anonymous Anônimo

    Garoto, garoto.
    Coincidentemente nesse dia eu estava nesse mesmo bar, na mesa ao lado. Acho que você não deve ter notado. Mas, lembro dessa dessa moiçola. QUE MARAVILHA! Ouvia atentamente ao papo de vocês e anotava tudo no lencinho de papel. Estava torcendo para que rolasse alguma coisa. Como vocês saíram na minha frente não sei o que aconteceu. A minha história, a que criei a partir de vocês, terminava com ambos sendo abduzidos e com a obrigação de repovoar um planesta distante. Acredito no seu potencial.
    Abraço.

  2. Anonymous Anônimo

    Que coincidência, eu também estava nesse bar, nesse mesmo dia...bem que eu vi...+ não quis nem falar com vocês. Tava um papo muito profundo.
    + assim, ouvi um papo até que rolaria uma amiga de vocês que seria a madrinha de casamento e que a incoveniente bateria na porta da casa de vocês no meio da noite, depois de um dia estafante de "discursões" de dois "chatos", para conversar sobre as sofrências dela. Quanta inconveniência...te contar.

  3. Anonymous Anônimo

    Acho que pensei em te pedi um cigarro nesse dia, o meu Parliament tinha acabado.

    Aí pedí pro Paulo Gótico, mas ele fingiu que não ouviu, o puto.

  4. Anonymous Anônimo

    Eu tava passando e ví esse sassarico, também.

  5. Anonymous Anônimo

    Coincidência ou não, eu também estava nesse bar, mas tive uma caganeira repentina e fui embora bem no momento em que você falava cuspindo sobre os cabos novos que você comprou para o seu computador.

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