Zapping 2


Zapear a TV está me fazendo mal. Ontem após uma sessão MTV com Pimp My Ride, Covernation e um programa horrível com a VJ e gata-dou-casa-comida-roupa-lavada-e-edredon-de-algodão-egipício Luisa Micheletti , assisti o fim sem graça do Jô com uma Plebe Rude vestida de Rick & Renner (adoro a ingenuidade dos nomes de bandas punk, mas isso é outro assunto, assim como os nomes de duplas pretensamente sertanejas).

Por inércia, mantive na Globo e o Intercine - sessão de filmes mais eclética da TV brasileira – iniciava a exibição de “Lambada – A dança proibida” de 1990. Lembro dele no cinema, mas não sabia do que se tratava. Caso tivesse me ocupado em pensar no assunto, provavelmente imaginaria a história de uma dançarina que “vem de baixo”, trabalha em uma fábrica de pneus ou em fast food, sofre assédio sexual do patrão crápula inescrupuloso, mas não desiste de seus sonhos, conquistando amor e sucesso através de seu talento para dança.

Mas o roteiro é um pouco diferente disso. Nisa, princesa de uma tribo de índios brasileiros que falam espanhol (legendas em português ajudam na compreensão dos diálogos), dançava lambada tranqüilamente no meio da Amazônia, até que uma empresa americana de porcos capitalistas chega no meio da parada dizendo que vai derrubar tudo e levar a madeira. Desesperados, os índios enviam a jovem princesa (que é uma baita de uma gostosa) para Los Angeles, acompanhada do pajé da tribo (que até o meio do filme não dançou lambada). O objetivo da dupla é levar o drama da destruição da floresta à grande mídia.

Chegando nos EUA, já falando inglês fluente, Nisa arruma trabalho como doméstica na casa de uma família rica, onde conhece o filho dos patrões, o playboy Jeff James, um notívago e exímio dançarino.

Em sua primeira noite na casa, Nisa rebola sensualmente em seu quarto trajando apenas um baby doll mamãe-quero-mostrar-a-bunda. Jeff estava de saída e passa de relance pela porta entreaberta do quarto. Apaixona-se por Nisa e imediatamente a leva para uma boate. Nessa parte dormi e acordei já com a Fabiana Scaranzi no Bom Dia Brasil, mas imagino que Nisa não conseguiu cumprir seus objetivos, pois a floresta continua sendo devastada e, pior ainda, ninguém mais dança lambada no meio do mato.

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Zapping


James Bond é um saco. Mas ainda mais sacal é a avalanche de resenhas, entrevistas, programas e matérias sobre o novo filme que invadiram revistas, jornais, canais por assinatura e internet.

Tive certeza da invasão na minha zapeada noturna no último sábado. Impressionante a capacidade humana de tornar "sério" um assunto tão irrelevante. Haja crítico analisando subliminarmente a personalidade de Bond e como o ator novo captou ou não as nuances do agente secreto em sua interpretação. Espero que, em breve, a indústria de cinema caia de joelhos como a do disco caiu, assim não seremos mais obrigados a engolir essas forçadas de barra de maneira tão generalizada.

Tentando fugir do tal novo filme que não vi e não gostei, caí em um reality show que desconhecia: American Inventor. Uma competição iniciada por 42 inventores, cada um apresentando seu invento para que um júri eliminasse metade deles. Restaram 24, que na segunda etapa falaram um pouco de sua história pessoal e porque acreditavam que seu produto merecia estar entre os 12 finalistas. Os escolhidos para a final ganharam 50 mil dólares, cada um, para aperfeiçoar seus inventos.

Resumidos em um programa de cerca de uma hora estavam alguns dos valores que tornam os EUA donos do mundo: a competição acirrada que prega a vitória a qualquer preço, o incentivo na busca pelo novo e a exaltação do esforço individual.

Várias das invenções eram ridículas. Uma jovem mãe de família aparentando poucas dificuldades financeiras na vida levou até o júri um "ursinho do caráter" (acho que era esse o nome), um urso de pelúcia sem enchimento e com uma abertura traseira onde deveriam ser colocados outros itens de pelúcia de diversos formatos (eu juro que não estou sendo irônico), como corações, estrelinhas e luas. Cada item estampava palavras e valores positivos, como sinceridade, afeto e honestidade. O objetivo do brinquedo era ensinar às crianças como preencher um bom caráter. Divertido? Meu sobrinho destruiria o brinquedo em dois ou três minutos, ajudado por mim, diga-se.

Se por um lado a produção escolhe alguns produtos para fazer o papel de palhaço, por outro são selecionados inventos realmente interessantes, criados por losers do sistema - justamente outra intenção do programa: exaltar o empreendedorismo pessoal como meio de alcançar o sucesso, um dos pilares da nação.

A carga emocional das histórias de cada um dos 12 finalistas e o modo como o programa conseguiu arrancar isso deles é sensacional. Americanos parece que nascem sabendo fazer TV ou aprendem na escola como discursar de maneira apelativa em frente às câmeras.

Ed Hall, professor de escola primária em Chicago, tinha um promissor futuro como jogador de basquete profissional. Mas cortado do time da universidade, dedicou-se aos seus alunos e ao Word Ace, um jogo eletrônico - parecido com o antigo Genius, que ensina crianças a soletrarem palavras de maneira divertida.

Erik Thompson é dono de uma academia e ensina futebol americano para jovens carentes. Dedicou sua vida a um colete esquisito que ajuda o atleta a melhorar suas habilidades de recepção da ball no football deles.

Mas o invento que me pareceu mais útil e, sem dúvida, a história mais emocionante de todas, é a do imigrante polonês Janusz Liberkowski. Ele perdeu a filha de um ano e meio em um acidente de carro. A menina estava em uma daquelas cadeiras de bebê, mas o impacto foi tão forte que ela não resistiu à pressão do cinto de segurança da cadeira. Janusz projetou então um assento para bebês em formato de meio círculo que absorve o impacto e, ao invés da criança ser presa pelo cinto, ela gira em torno da própria esfera da engenhoca. Eu chorei no depoimento do cara e fui atrás da página do programa na internet. Sem surpresas, descobri que ele foi o vencedor desta primeira edição do programa (que já acabou nos EUA, mas que o Sony ainda exibe por aqui).

O mais legal de zapear a TV são os acompanhamentos. Eu gosto de cerveja com amendoim, mas como estou de dieta, nessa noite do American Inventor eu comia palmito em rodelas.

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Hail Angus


(da série "discos que mudaram minha vida")

Molequinho, eu achava que rock era Guns’n’Roses e Skid Row, bandonas mainstream que dominavam aqueles tempos pré-grunge do comecinho dos 90. Alguns amigos, um ou dois anos mais velhos, já usavam camisas pretas silkadas com motivos musicais demoníacos (isso no agradável clima forno/fogão de Belém do Pará). Eu não entendia nada daquela história de “metal”, a começar pelos logotipos das bandas, que até hoje me parecem feitos por designers estagiários jogadores de RPG. Mesmo assim, naquelas primeiras incursões às duas lojas de disco que valiam alguma coisa na cidade, o Ná e a Gramofone, eu começava a fuçar e escutar as prateleiras dedicadas aos discos mais pesados.

Em uma das idas à extinta Gramofone, ali no final da Magalhães Barata, catei um CD do AC/DC pra escutar (era justamente o começo dos tempos “uau, já saiu em CD”). Eu conhecia aquela marca por osmose, o logotipo da banda é um desses ícones pop que você não lembra muito bem o que é, mas sabe já ter visto. Finalmente escutaria que diabos era aquele som (eu precisava fazer esse trocadilho).

Primeira música, justamente a que batizava o CD, “Highway To Hell”. Começava o riff, dedilhado justamente pelo homem riff, Angus Young. Puta que pariu, que merda é essa, pensei. Ou melhor, devo ter pensado. Entra o vocal rasgadamente desesperado do bêbado Bon Scott, “Livin' easylovin' free / season ticket on a one way ride …”. Não sabia descrever o porque de ter gostado, achava que ouviria mais uma daquelas bandas barulhentas que meus amigos metaleiros gostavam e tentavam fazer com que eu também gostasse, mas não, o tal de AC/DC me parecia...música! Na seqüência, a segunda canción era "Girl's Got Rhythm", e chega, comprei. O disco era meu e de mais ninguém, precisava escutar em casa, faixa a faixa. Lá se foram vários milhares de bem investidos cruzeiros, os primeiros de muitos que eu apliquei comprando tudo que eu via pela frente do AC/DC.

Quase todo mundo diz que Back in Black, o disco seguinte, de 1980 (Highway é de 1979) seria o melhor da banda. Foi a estréia de Brian Johnson como vocalista, substituindo Bon Scott, falecido alguns meses antes no famoso caso da morte por afogamento no próprio vômito devido a um porre (certo, então não tinha heroína na história? Tá bom então). Claro que eu gosto de Back in Black, mas pra mim não chega nem perto de Highway to Hell, até mesmo pelo valor afetivo.

Highway to Hell é um dos meus discos do coração. Iria comigo para uma ilha deserta, um dos primeiros que mostrarei pros meus filhos e uma excelente escolha para compor a trilha sonora do meu enterro (amigos, anotem isso, por favor).

Gosto de rock desde criança, bem antes de ouvir Highway to Hell. Mas veja só, eu era uma criança, obviamente gostava do que ouvia no rádio e via na TV. E tome Titãs, Legião e Ultraje. Tempinho depois comecei com Guns e outras farofadas americanas, que se não mudaram em nada minha vida, ao menos fizeram com que eu chegasse até o AC/DC, a banda que me mostrou a Luz. Vermelha e fraca.
Abaixo um mashup encontrado por tropeço de “Dirty Deeds, Done Dirt Cheap” com “We Will Rock You”. Logo depois, caso não conheça, uma performance ao vivo da auto-estrada para o inferno com letra para karaokê, olha só que beleza.



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Noite passada


Trabalhar offline pra mim é um suplício. Passar o dia sem receber links ou não poder fuçar a internet à vontade me deixa desesperado. Neste momento não tenho acesso ao Orkut, ao Gmail (o que paralisa cerca de 30% da minha vida pessoal/profissional) e faço malabarismos técnicos para driblar o bloqueio de MSN. Volto a defender a liberação imediata de todo o mundo on-line para as pessoas que trabalham com idéia. O cara que não ta a fim de trabalhar acaba arranjando outras distrações, não é o bloqueio do MSN (e do meu Gmail, porra!) que vai deixar alguém mais talentoso ou rápido.

Enfim, mesmo com minhas dificuldades de acesso à informação nos últimos dias, hoje recebi um link interessante. Duvido que a festinha no seu apartamento semana passada tenha sido mais animada.

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Me mande


Os últimos meses foram de explosão do viral na comunicação de internet. Todo mundo quer, todo mundo pede, os clientes não querem saber de outra coisa. Se a agência não apresentar um viral na campanha os criadores correm risco de ser alvo de gozação na próxima reunião de publicitários descoladinhos naquele bar moderninho onde toca música fofinha. E claro, como em toda avalanche ou moda de qualquer coisa, junto com as peças geniais surgem um monte de outras esquecíveis, muitas vomitáveis.

No meio de tanta marca pedindo para o consumidor fazer a propaganda (“envie seu vídeo sobre como você pediria socorro caso sua casa começasse a pegar fogo após você ter usado outro fósforo que não era Fast Fire”), essa ação da Almap para a Antactica mostra como é que se faz a coisa direito (depois de entrar no site clique no quadro do lado direito) . É viral até o diabo dizer chega e sem precisar forçar a barra “ei, eu sou uma propaganda viral, pelo amor de deus me repasse!”.

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Ageu e Edil*


Veja só a escalação do meu Clube do Remo em 20 de novembro de 2005 (data em que conquistamos o título da terceirona): Rafael; Marquinhos, Magrão, Carlinhos e Eduardo; Márcio, Serginho, Maurílio e Geraldo; Landu e Douglas Richard.

Cadê a graça? A intimidade com o torcedor? Onde estão os nomes engraçados só de falar, que geram a piadinha pro narrador do rádio, que fazem a torcida gritar ensandecida? Essa mania de dois nomes, ‘inhos’ e afins é péssima para o folclore do esporte.

Agora confira a mesma escalação azulina de 1912, no primeiro clássico contra o Paysandu, vencido pelo Remo: Oliveira, Tangará e Guaracy; Raimundinho, Dico e Boal; Café, Modesto, Bebel, Hugo e Celso.

Sacou a diferença? O meio de campo tinha Café e Modesto! Hoje em dia a patacoada marqueteira jamais deixaria um Tangará entrar em ficha técnica de clube profissional. Provavelmente adotariam o nome real do cara, um Diego Oliveira qualquer. Particularmente eu adoraria acompanhar o futebol europeu com jogadores brasileiros e seus apelidos retrô. Barcelona entrando em campo com Reco-Reco e Cavalo no ataque contra o Real Madri do grande goleiro Banana.

Sei lá se esse Alexandre Pato do Internacional realmente será um bom jogador (eu acho que sim, pero não nos precipitemos), o que me chama atenção no cara é a nomenclatura. Torço pelo sucesso dele e que isso traga uma nova onda de velhos apelidos, tomara que seja vendido pra Inglaterra. Quem sabe traduzam para Alex Duck (em tempo: o nome real dele é Alexandre Rodrigues da Silva. Sinceramente, Pato não é muito melhor?).

*Se você não é de Belém, o nome do post faz referência a dois jogadores que marcaram o futebol paraense nos anos 90. Ageu, o Tartaruga Ninja, apelido que ganhou graças ao formato de seu corpo e tosca ironia com a grande velocidade que era capaz de empreender rumo às redes adversárias. Edil, o Carrasco, o Braddock, o Highlander, era alto e magrelo, narigudíssimo e de faro apurado para o gol. Comemorei muitos gols destes dois em jogos do meu amado Clube do Remo.

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Amigos, para sempre


rafs diz:
tirei "o último bar" em tua homenagem pra tocar no sítio, inclusive o solo

rafs diz:
não ia falar mas foda-se

rafs diz:
aí tu grava essa merda

rafs diz:
e mete no cu

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Grand Prix Zé


A atividade publicitária, talvez um pouco mais que a vida de um modo geral, é feita de pequenas espertezas e insinceridades necessárias à sobrevivência de uma agência ou carreira profissional.

Algo que sempre me chama atenção é a divulgação das conquistas de agências. Uma coisa é a DM9 ostentar na sua fachada de vidro, em letras garrafais, os títulos de agência do ano em Cannes e primeiro Grand Prix brasileiro no mesmo festival. São feitos realmente notáveis e que merecem todo destaque, mesmo que, particularmente, eu ache brega os adesivos na fachada da empresa.

Mas nada pior que orgulho pé-rapado ou tentativas espertinhas de transformar banalidades em fatos relevantes. Ouro no Prêmio Piraporinha de Propaganda só vale ouro pra organização do festival, que tirou uma boa grana dos trouxas que inscreveram alguma coisa na premiação. Mesmo assim, a agência premiada cacareja para meio mundo que botou um ovo. Ok, o processo todo transcorreu legalmente (estamos partindo do princípio que o festival é um negócio privado e que julga como bem entender as peças inscritas em seu certame), então é direito da agência divulgar da maneira que achar mais adequada o resultado de seu desempenho.

O que acho sacanagem é o cara ter consciência de que aquele trofeuzinho vale menos que um pastel de palmito e, mesmo assim, ele plantar notinhas na imprensa, publicar anúncio e divulgar para os clientes a vitória. Os clientes, em sua maioria, não sabem diferir Cannes de Colunistas, e aí temos a esperteza. Dizer pro cara "ei, emplacamos três anúncios no Gabirú Awards e estamos com duas peças na seção Showcase da Ad Anal, me dê sua conta porque somos criativos e engraçadinhos" é de uma mesquinhez que enoja.

Lado a lado com a indústria fantasiosa dos prêmios tipo pagou-entrou, temos a síndrome de vira-lata que acomete o brasileiro desde 1500, reproduzida regionalmente em cada mercado, de acordo com seu tamanho. A agência é do norte? Então qualquer citação em blog ou referência no Blue Bus é comemorada como se fosse a conquista da conta da Nike. O cara é do nordeste, inscreveu trinta peças no CCSP e não emplacou nem anuário? Ora, "a culpa é desse monte de paulistas preconceituosos filhos da puta, porque ano passado fomos os mais premiados no Senegal World Creativity!". A agência está na capital paulista e não consegue nada além da conta das Faculdades José Mané? Claro que "é por causa da panelinha das grandes agências que não nos deixa entrar no jogo!". Trabalhar que é chato, mas dá dinheiro, a turma não quer.

Quando os escândalos governamentais publicitários estouraram em 2005, grupos de dirigentes da área apressaram-se em fazer reuniões para discutir como reverter a imagem da classe perante a sociedade (como se a sociedade ligasse pra isso), mas esqueceram que antes dos trambiques do careca e das contas no exterior do Duda, a picaretagem rolava solta, não apenas no departamento financeiro, mas também nas salas de criação falsamente criativas.

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Eles, turistas


Se você é um dos indignados com o tal filme “Turistas” - a película americana que mostra um grupo de jovens do país rico em férias no Brasil comendo a coxinha de galinha que a Regina Cazé amassou – por favor, não venha me encher o saco.

A proposta de “boicote” ao filme está bombando nas caixas de e-mail de todo o país como se fosse a última palavra em defesa do orgulho nacional. É mais um desses sacais protestos inócuos de classe média, camada social pródiga em não saber para onde direcionar sua queima de neurônios.

Tempinho antes a moda era espalhar e-mails “denunciando” a pouca-vergonha da política nacional e mostrando indignação com esse povo “analfabeto, pobre e filho duma puta” que estava reelegendo esse “analfabeto, pobre e filho duma puta” para a presidência. Curiosa a situação: então um mês antes o carinha tava puto com o faroeste (histórico, diga-se) que é a política do pais dele, tava “com vergonha de ser brasileiro” – como adoram dizer, mas bastou um filmeco com roteiro de merda, que em dois meses estará esquecido, jogar uns clichêzinhos de terror numa praia qualquer do nordeste pro cara tomar frente da mais nova questão de honra nacional? Não entendo essas cabeças, onde diabos o país vai parar habitado por gente que realmente acha válido para a melhoria da nação a preocupação com esse filme idiota? Argh, essa sempre desprezível cultura elitista branca.

Um dos e-mails contra o filme diz em um trecho “Só para se ter uma idéia, o trailer começa com a frase: ‘Num país onde vale tudo, tudo pode acontecer!!!’” (repare, as pessoas que nunca tem algo de útil a dizer adoram multiplicar exclamações). Gostaria de saber em que cidade o redator do protesto mora, porque se no Brasil dele tem lei, a polícia presta e ninguém suborna guarda ou fura uma fila eu mudo pra lá amanhã. Com perdão das senhoras que possam estar lendo isso aqui: eu desejo profundamente que a classe média, seja ela baixa, média ou alta, enfie essas indignações de internet profundamente nos olhos de seus devidos cus e parem de entupir meu e-mail com merda.

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O tempo e o mail


Tive uma namorada cujos pais namoraram, salvo engano, sete anos por carta. Ele no Brasil, ela em Portugal. O gajo veio fazer a vida por aqui. Antes, ainda em terras lusitanas, teve um ou dois contatos pessoais com a futura esposa, daqueles de sentar no sofá da sala, quem sabe tocando as mãos dela na despedida, com o pai da moça sempre intermediando as negociações. Deixou a promessa, quando a grana entrasse, que a buscaria de volta, já pra casar. E foram se conhecendo posteriormente via postal. O tempo da carta vencer o atlântico hoje em dia seria suficiente para uma banda ser formada, lançada, hypada e esquecida ou, também, mais ou menos o tempo de um motorista paulistano percorrer uma avenida marginal em dia de chuva.

Com o tempo e, como todos sabemos, as investidas amorosas adaptaram-se à internet. Antigos relatos contam sobre homens e mulheres trocando cantadas em pré-históricos bate-papos do Uol via web, claro, com alguma sorte, pois era muito natural na época a SaradinhaCarioca23 ser, na verdade, João Ricardo, 16. Receber uma foto da paquera? Coisa rara. Quem possuía scanner? Máquina Digital? Mas o pior é quando a moça realmente enviava uma foto e você constatava que precisaria de algumas dezenas de litros de cerveja para tecer uma opinião positiva a respeito de sua estética.

As pessoas começavam “a ter e-mail”. De repente, na sua lista já não figuravam somente amigos enviando piadas machistas e fotos antigas da Playboy. Algumas conhecidas e paqueras também possuíam endereços eletrônicos e, veja só, era possível dar em cima das moças por ali. Simples, rápido(?) e prático. Você podia medir as palavras, pensar em algo inteligente e elaborar melhor uma tirada bem humorada. Existia o risco de errar no português e perder pontos com a gata, mas também havia a possibilidade dela não perceber e ainda passar a achar que “embreagado” se escreve com esse irritante segundo “e” ou que “agente tem tudo haver” significava um elogio.

Chegaram então os comunicadores instantâneos. Mais rapidamente ainda, os xavecos logo já estavam adaptados e ambientados em sua nova mídia. Você continuava refém do português, mas agora um deslize já seria mais compreensível, perdoável, afinal, você supostamente estaria escrevendo de supetão e os riscos e abreviações ortográficas passaram a ser corriqueiros. A angústia máxima da era anterior “Será que ela/ele vai ler/responder (o e-mail)” foi substituída por outras como “Será que ela/ele tem MSN?”, “Quando ela/ele vai ficar on-line?” e “Será que essa/esse filho(a) da puta me bloqueou?”.

Em minha nova agência não tenho MSN. Mal tenho e-mail. Novas pequenas regras rígidas do mundo corporativo. Sou obrigado a utilizar um velho e pouco prático endereço eletrônico pessoal que (ainda) não está bloqueado pelo servidor. Mas pouco importa MSN, Gmail ou Orkut, importa mesmo é que novamente, depois de sei lá quanto tempo, espero com ansiedade e-mails e respostas de alguém em especial, e o melhor de tudo é abrir a caixa postal e ver o nome dela lá, em negrito, como remetente de uma nova mensagem.

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Figuras, aqui


A primeira impressão sobre a figuração, enquanto manifestação artística, passa idéia de atividade que pouco exige das faculdades mentais de um indivíduo típico. Nada mais errado. A formação de um bom figurante exige tempo de aprendizado e experiência de vida. E lá se vão cerca de 10 anos meus com especial atenção ao ofício.

Minha primeira figuração digna de nota foi como um rei mago na representação do presépio em algum natal perdido na década de 90 (as produções natalinas eram marca registrada da minha família). Não lembro qual dos três reis representei, mas espero ter encarnado Belchior, primeiro personagem histórico a ter medo de avião e, assim como eu, latino americano e sem dinheiro no banco. Também não recordo minhas poucas falas, mas creio ter sido algo como “trouxe ouro (ou incenso ou mirra) para o menino”. Ouro não deve ter sido, eu não entregaria mercadoria valiosa tão facilmente para um moleque de fraldas que nunca ouviu falar de fundo de investimento ou conta de luz atrasada. Mas provável ter sido o incenso, essa brilhante invenção que compõe o kit do chato eclético padrão e que eu teria prazer em me livrar.

No início de minha carreira publicitária, onde tive a honra de criar alguns dos piores comerciais de TV da história, figurei no papel de freqüentador de loja enquanto o apresentador anunciava ofertas e, em outra oportunidade, ajudei a manipular bonecos para um comercial de farmácia que, até hoje, não entendo como tive a cara de pau de criar, digo, cometer. Não está no You Tube.

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Ah, meus 20 e poucos, que merda.

A vida de figurante continuou firme, expandindo-se pelos variadas divisões sociais e profissionais de minha vida. Chegando ao campo amoroso, já figurei involuntariamente como o último a saber, pau amigo, objeto causador de ciúmes, palhaço e bocó.

No tempo de faculdade, eu e algumas dezenas de colegas, ajudamos os movimentos estudantis da instituição passeando pela calçada, a caminho dos bares, dando impressão de que as passeatas contra o sistema ou a favor de uma meia qualquer eram bem maiores do que pareciam ser. Figurações cívicas que contribuíram com a politização do país.

No rock talvez esteja minha maior contribuição figurativa. Já suportei uma variada gama de shows por amizade ou constrangimento, visto que, em alguns casos, já representei 30% ou mais do público presente e meu afastamento da frente do palco seria responsável pela sensação de fracasso do conserto.

Recentemente, aproveitando minha experiência em figuração musical, um amigo com faro para meu talento, implorou por minha participação no novo clipe de sua banda. Na esperança de escapar do mico, cheguei atrasado às gravações. Percebi que minha ausência não faria a mínima falta ao andamento do trabalho, pois o cenário e demais figurantes já estavam definidos e prontos para o começo da ação quando me apresentei no local. Mesmo assim, fui devidamente paramentado como turista gringo e assumi a importante função de passar em frente à câmera enquanto os protagonistas do roteiro (covers de Kojak e Rixxa) negociavam um vibrador piscante.

Participar de clipes pode ser o primeiro passo para que eu finalmente chegue ao estrelado primeiro mundo do rock independente, gênero rico em sexo fácil e dinheiro difícil. Aceito convites.

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Ocupado


d0da diz:
uma das coisas boas de morar praticamente sozinho é usar o banheiro de porta aberta e fumando

O Amigo da Vizinhança diz:
fumar cagando é demais, mas só eu fumo em casa e se fizer isso tô fodido

d0da diz:
acabei de estrear meu novo suporte de papel higiênico da tok stok, um luxo

O Amigo da Vizinhança diz:
rapá, isso merecia um "petit comitet"

O Amigo da Vizinhança diz:
uma reunião entre amigos

O Amigo da Vizinhança diz:
um prato refinado

O Amigo da Vizinhança diz:
tens que botar a foto no Orkut

d0da diz:
boa idéia!

d0da diz:
farei isso daqui a pouco

O Amigo da Vizinhança diz:
quando isso acontece em Belém sai em coluna social

O Amigo da Vizinhança diz:
dia desses teve uma nota sobre a inauguração da nova pia da suíte de Claudinha Albuquerque Cavaleiro de Macedo Picanço Klautau e Klautau

O Amigo da Vizinhança diz:
só se comentou disso na cidade

O Amigo da Vizinhança diz:
era fila pra lavar a mão

O Amigo da Vizinhança diz:
"Mariano El Hosn Passarinho, sempre um pândego, tirou do bolso do colete sua escova de dentes elétricas e fingiu que escovaria os dentes. Todos caíram na gargalhada..."

d0da diz:
ah, também comprei uma cortina de banheiro nova que é um luxo, tens q ver

d0da diz:
também da tok stok

d0da diz:
dá gosto de se banhar

d0da diz:
quer dizer, ainda não sei, vou estrear daqui a pouco

O Amigo da Vizinhança diz:
só falta instalar o playstation no banheiro pra tu não saíres mais de lá

d0da diz:
estou pensando em um trocadilho do tipo "vou escolher o jogo tal pq é uma merda", mas não me veio nenhum na cabeça

O Amigo da Vizinhança diz:
se fizesse eu teria pronta a risada falsa

d0da diz:
ah, é por isso que eu te dolu migow

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