Adeus, blogger


Devido aos problemas e bofofós informáticos do Blogger, este blog agora atende em novo endereço:

bloda.wordpress.com

O arquivo de posts antigos foi todo transferido e, ao longo dos próximos dias, novidades tecnológicas cheias de bossa serão implementadas.

Avise os amigos e as pessoas de quem você não gosta.

Até!

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Comentários tratantes


Estou com problemas no sistema de comentários do Blog.

Eu sei que pouquíssima gente comenta nisso aqui, mas como ultimamente notei a falta até mesmo destes poucos comentários, mês passado pedi a criação de uma comissão encarregada de estudar o problema. Após uma profunda investigação, o relatório final apontou que sim, o sistema de comentários deste blog realmente não está funcionando.

Não faço a mínima idéia de como resolver isso, se você entende alguma coisa de blogs, HTML e quiser me ajudar gratuitamente, puxe papo no MSN (doda.doda@globo.com) ou mande e-mail (doda.doda@gmail.com).

Meus agradecimentos só não serão eternos porque sou mal agradecido.

Beijos.

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Entrevero


Percebia que tinha boa aparência quando alguma senhora de respeito sentava ao seu lado no assento do ônibus. Elas poderiam escolher tantas outras pessoas do veículo, mas optavam pelo rapaz que inspirava maior confiança ou menos ameaça. Não significava muita coisa, mas era um mínimo agrado ao seu ego que logo mais sofreria um abalo.

Ao descer do coletivo, caminhou mais duas quadras, longas. Compridas como o tempo que, sabia ele, seria jogado no lixo em poucos minutos.

- Oi. – Ele disse.

- Não vamos mais nos falar, né? – Ela queria apenas a confirmação.

- É, não.

- Até quando?

- Não sei, até passar.

- E se não passar?

- Um dia passa, espero.

Foi sua última viagem naquela linha. Não precisou mais daquele trajeto para nada. Na verdade, passado algum tempo, nem lembrava mais que realizava aquele percurso com certa freqüência. Seguiu seus deslocamentos com respeitáveis madames sentando ao seu lado.

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Reset


Um próximo capítulo bárbaro de violência urbana acontecerá em breve. Eu, você, todos sabemos. A turma que sai proferindo todo tipo de bobagem nessas horas também sabe. Alguns até têm uma idéia do que poderia ser feito pra amenizar a coisa, mas não vão fazer porque dá um trabalho que só vendo.

É irresponsabilidade anunciar qualquer solução que não passe por uma reorganização geral da sociedade e, particularmente, não acredito que isso venha a acontecer (tanto a reorganização da sociedade quanto o debate em torno dela). Não adianta a Veja vir com discursinho de direita indignada, listando medidas práticas anti-violência receitadas por especialistas. Essa a gente perdeu. Aliás, não perdemos, apenas deixamos de ganhar.

O DVD pirata na esquina, a escola de samba patrocinada pelo crime organizado desfilando no horário nobre, o playboy “do bem” cheirando pó no banheiro da boate, a entidade estudantil que se sustenta vendendo carteirinha de meia-entrada para não estudantes, a simpatia disfarçada da classe média com a brutalidade policial, a magia do você-sabe-com-quem-está-falando?, a eterna busca do pouco trabalhar pelo muito a ganhar. Tudo, tudo está devidamente conectado. Se você descobrir onde é o reset, não hesite, aperte imediatamente.

O país foi construído de maneira tosca e por uma maioria de irresponsáveis que se acham espertos e, que surpresa, continua exatamente assim. A situação que acompanhamos hoje é apenas a evolução natural de como o Brasil foi alicerçado. Reze para que a próxima vítima não seja você ou alguém da família.

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Comentário 1: lição resumidinha e bem fácil para entender porque o nosso problema de violência urbana não será resolvido em dois, dez ou vinte anos: Elite da Tropa.

Comentário 2: isso aqui é só ingenuidade ou mais uma insinceridade publicitária?

Comentário 3: acabo de visitar o Inagaki e ele também escreveu sobre o mesmo assunto hoje. Sempre bom.

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Rooock


12 de junho de 2005, era um domingo. Dia dos namorados, eu sem a minha namorada, ou melhor, a minha não queria ser minha, enfim, não existia namorada nessa data. Após um apoteótico Wander Wildner na noite anterior, show promovido pelos amigos da Dançum Se Rasgum, chegava a hora dos Autoramas. O palco era o mesmo, o do Café com Arte, uma espécie de Circo Voador paraense destes anos 00. O trio carioca faria seu terceiro show em Belém, o segundo pelas mãos do folclórico e desaparecido produtor Alex Zamba, o Corujinha, que merece uma edição do Saturday Night Live em sua homenagem.

Era a segunda vez que eu acompanhava um show dos Autoramas. Era a segunda vez que eu tinha certeza de ter feito um excelente negócio ao adquirir um ingresso para a apresentação deles. Assistir esse tipo de show em Belém era uma experiência única. O público dificilmente passaria de 300 incautos e a maioria destes eram meus amigos. Era uma festinha fechada, melhor ainda, uma festinha fechada com uma puta banda tocando na sua frente.

Fast Foward para São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007. Waleiska, grande amiga paraense, está deixando Sampa e voltando para a nossa terrinha quentinha. Sua despedida da cidade calamitosa foi nesse sábado, 10, num bar em Pinheiros. Eu pretendia beber só um pouco, justamente para chegar inteiro no show do Autoramas logo mais à noite. Como esperado, não consegui cumprir meu objetivo. Tomei um porre daqueles onde começo a emitir opiniões inconvenientes a respeito de temas polêmicos, como depilação íntima feminina.

Mesmo em lamentável estado físico, eu e mais 4 amigos insistimos em continuar a jornada rumo ao Inferno – não o bíblico, mas o da rua Augusta, local onde aconteceria o show da banda carioca. No caminho até lá, Lily Allen animava o passeio no carro com o hit fofinho “Smile”. A coreografia cometida no interior do veículo não foi repetida ao vivo e entrou na lista universal de constrangimentos a evitar.

Já no clube Inferno, a espera pelo show foi longa. Como é tradição nos buracos roqueiros da paulicéia, a discotecagem do lugar era uma interpretação equivocada do DJ sobre o que ele acha que as pessoas gostariam de escutar na ocasião. Excetuando o Guab, residente do Milo Garage, e alguns outros DJs com melhor feeling da pista, esperar por um show em certos lugares é um anti-clímax. Talvez seja proposital, não sei.

De muito vazio, o lugar passou para agradavelmente cheio em cerca de uma hora. Quando a banda é mais conhecida, como era o caso do Autoramas, a fauna feminina costuma ser mais variada. As moderninhas de cabelo repicado estavam por lá, mas outros tipos mais “comuns” e não menos interessantes também disputavam meus pouco cobiçados olhares. Ah, como são lindas essas alternativas paulistanas.

Duas da manhã, finalmente Gabriel (guitarra e voz), Selma (baixo) e Bacalhau (bateria) começam a torpedear suas músicas sobre a platéia. Autoramas é surf music, punk, jovem guarda. Banda redondinha, boas letras, músicos experientes, hits excelentes, acessíveis tanto para os momentos mais românticos do punk metido a besta quanto para uma auto-afirmação tardia da paty metida a transgressora. É o tipo de banda que faz você entender o que é um show bom. Nada de pose blasé pra disfarçar som ruim, pretensões intelecto-vocais ou apologias depressivas. Só de Autoramas, o líder Gabriel tem 10 anos, o cara sabe muito bem o que faz. A qualidade do show é de uma sinceridade que me comove. Pode parecer exagero, mas quando vejo uma apresentação dessas eu me derramo mesmo, porque a quantidade de shows de rock ruins que circulam pela noite paulistana só perde em número para as profissionais da noite nas calçadas da Augusta.

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No busão


- Bom dia senhoras e senhores, não quero incomodar sua viagem, mas apenas anunciar uma sensacional oportunidade que você tem de adquirir por somente cinqüenta centavos a Maxi Goiabinha ou Maxi Chocolate da Bauducco, duas por um real! Muito sabor por pouquinho dinheiro, você não vai perder essa, até porque, não é só isso! Nã, nã, ni, nã, não: além de levar uma Maxi Goiabinha ou Chocolate por somente cinqüenta centavos, duas por um real, você ganha um e-mail! Dá pra acreditar?! Essa é pra melhorar o humor em qualquer engarrafamento, é sabor, é delícia, é tecnologia que não acaba mais, tudo por somente cinqüenta centavos! Ah, e se levar duas Maxi Goiabinha ou Chocolate por apenas um real, você ganha dois, eu disse dois e-mails! E então, quem está dentro dessa?

- Eu quero duas Maxi Goiabinha - por apenas um real, mas como funciona o negócio do e-mail?

- É pra já freguês! Ó, aqui as suas duas Maxi...nessa folha o senhor escreve o seu endereço de e-mail que ainda hoje os dois e-mails grátis estarão lá quentinhos...

- Mas eu achava que era pra ganhar duas contas de e-mail, não é isso?

- Não, não, conta de e-mail o senhor faz grátis no Hotmail, Gmail, Yahoo. O que estou lhe dando é a oportunidade de ganhar, literalmente, dois e-mails, ou seja, duas mensagens de e-mail, entende?

- Ó, taí a folha, pega a sua caneta...er, e sobre o que são as mensagens?

- Ah, aí é surpresa, o senhor vai ver. Bom dia e bom trabalho.

- Mas...

- Bom dia pessoal, bom trabalho a todos, obrigado motorista, obrigado cobrador!

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Procurando carro


Vendedores de carro usado são curiosos. Existe um guarda-roupa padrão para esta categoria profissional. É um estilo bicheiro light. Camisa de manga comprida enrolada até o cotovelo (geralmente um modelo de uma ou duas estações anteriores) para dentro da calça jeans azul-careta. Cinto preto ou marrom com fivela dourada e sapato social, também preto ou marrom (depende do cinto). O relógio é sempre de pulseira de metal, imenso e um pouco frouxo no pulso. Cordão grosso de ouro e os óculos Stallone Cobra completam o figurino.

Os jargões da profissão também guardam alguns atrativos interessantes, como por exemplo, os adjetivos atribuídos aos veículos.

“Este era de gerente de banco”. E daí? Gerentes de banco, por acaso, não perdem a data das revisões?

“Carro de mulher, pode confiar”. Deus me livre! Não conheço uma única dona de carro que troque o óleo na quilometragem correta ou não raspe laterais nas colunas da garagem.

“Esse aqui está tão bom que eu ia comprar pra minha esposa”. Sai pra lá então! Não sei qual o estado do seu casamento.

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Me irrita que eu gosto


*Também disponível no leitoso Ressaca Moral.

Lost
Quando Arquivo X encerrou suas atividades como assunto televisivo mais chato de todos os tempos, Lost chegou como quem não queria nada e tomou da antiga patuscada nerd-alienígena o troféu de “não agüento mais as pessoas falando sobre isso”. E haja comentário do 8º episódio da segunda temporada, de especulações sobre quem seria o misterioso fulano de tal ou o que um urso polar estaria fazendo em uma ilha de clima tropical. Pior é quando a série passa na Globo e ganha um monte de novos fãs impressionados com “esta fantástica aventura” e falando todas as bobagens que você já escutou meses antes dos seus amigos que acompanham a série na TV a cabo ou baixando da internet. Em 2008 será muito pior, pois a Globo exibirá a temporada com o Actor in a Supporting Role Rodrigo Santoro.

Comerciais de cerveja
Não são apenas as micoses de pele que brilham no verão. Esta também é a época onde as cervejarias despejam na mídia tudo aquilo que despejamos no banheiro quando bebemos demais o produto que elas vendem. É hora das piadinhas de borracharia com gostosonas burras em geral e dos personagens zés manés que optam por outras cervejas que não aquela do comercial. Este ano o troféu “Não precisa ofender minha inteligência, o governo já faz isso” vai para a Kayser e sua campanha ridícula do baixinho pegando as famosas. Clichê, batido e ainda por cima chamando o consumidor de idiota jogando na mídia o falso namoro com a Karina Delícia de Piercing Bacchi. Falando nisso, o prêmio “Ei, leitor idiota, vendemos a capa para uma campanha publicitária, mas você não vai notar” fica para a Caras, veículo que divulgou o tal romance como se fosse verdade.

Sushi
Sem nada decente para comer, resta ao japonês passar a vida inteira concentrado inventando maravilhas como o Playstation e a mais bizarra programação de TV do mundo (mas os efeitos da comida ruim também se manifestam em outra parte da população, vide os quadrinhos e desenhos animados). O que espanta é esse tipo de alimentação, que não pode ser chamada de comida, ganhar cada vez mais espaço em nações altamente avançadas sócio-economicamente como a brasileira. Pior do que o Sushi em si, são pessoas conversando sobre comida japonesa. “Eu a-m-o temaki”, “prefiro sashimi” , “ah, já eu gosto mais de vodakú” e, pior do que tudo isso, são pessoas comendo “naquele rodízizio japa ó-t-i-m-o” falando sobre Lost.

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Breve guia de boas maneiras em SP


"Como saber se a garota é amadora ou profissional nas calçadas da Augusta, agora tomadas por boates modernas – as profissionais saem sempre mais em conta, juro."

Do Xico Sá, no No Mínimo.
Post inteiro aqui.

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Caso do piu


A história a seguir é baseada em fatos reais. Os nomes de pessoas e empresas envolvidas no desenrolar do blá, blá, blá foram trocados e/ou omitidos por questões de segurança.

O cliente era uma faculdade privada. Mais uma destas que primeiro pensam na sigla para depois escolher o que ela significa. Desentenderam-se com a agência anterior uma semana antes da abertura das inscrições para o vestibular do começo do ano. Chegaram segunda-feira na agência em que eu trabalhava, queriam a campanha completa (jornal, rádio e TV) pronta até sexta. Prazo apertado não é novidade pra quem trabalho nisso, então vamos lá.

Começa a tradicional associação de idéias. Vestibular lembra desafio, escolha, calouro, trote. Trote, era isso, vamos por esse caminho da alegria pela aprovação.

- Mas e depois da festa pela aprovação vem o que? - Rodney, o atendimento da conta e um dos donos da agência, pergunta.

- Ora, aí está a diferença de quem optou pela FIFUPA - respondeu Alex, o redator, emendando - na FIFUPA você não fica só naquela farra da aprovação de pintar a cara, quebrar ovo na cabeça, não, não. O calouro FIFUPA sabe que fez uma escolha com algo mais, uma escolha de conteúdo que vai fazer a diferença no seu futuro.

Herbert Maurício, o diretor de arte da campanha, puxa então o primeiro layout.

Ovos. Vários deles, inteiros, enfileirados e arrumados, lembrando o trote da aprovação no vestibular, o quebra-quebra de ovos na cabeça do calouro. Em destaque, no centro do anúncio, um dos ovos estava com a casca rompida e visivelmente vazio. Supostamente saído deste ovo, um pintinho amarelinho, trajando gravata e segurando uma pasta executiva. Era a representação lúdica do vestibulando que optou pela FIFUPA. Título do anúncio: “Passar no vestibular é fácil, o importante vem depois”. Mais simples, direto e estúpido impossível.

- Er...mas...é um pinto, não? – Rodney, o atendimento, demonstrava seu ceticismo a respeito da peça.

- Exatamente, um pinto! O cara que escolhe a FIFUPA é esse pinto! E não somente um calouro vazio...sacou? Vestibular, festa, ovos na cabeça, ok. Mas e depois? Ora, depois o aluno FIFUPA vai fazer a diferença no mercado de trabalho, será bem sucedido, um ovo que deu certo, ou seja, um pinto! – Alex estava muito empolgado.

- É isso aí. – Completou o genial Herbert Maurício, que havia enriquecido a cor amarelo-ouro do pinto no Photoshop “pra dar uma idéia de riqueza”.

Mostraram o roteiro do comercial de TV. Câmera fechada em uma frigideira no fogão. As mãos de alguém quebravam um ovo na borda da frigideira e logo depois o fritava. O locutor dava as primeiras dicas no off. “Passar no vestibular é muito fácil”. Vinha o pulo do gato: as mãos tentavam quebrar outro ovo para fritá-lo, mas este simplesmente não se rompia, mostrando que tinha “algo mais” ali dentro. Entravam as imagens da faculdade, alunos estudando, laboratórios, professores qualificados, inscrições abertas do dia tal ao dia tal, logomarca da FIFUPA. Cortava novamente para a cena do fogão e...vejam só...nosso amigo pinto estava lá, feliz e saracoteante com sua gravatinha, pasta e óculos. A locução fechava o reclame com chave de ouro: “...Vestibular FIFUPA. O importante vem depois”.

Rodney seguiu apavorado para o ciente ainda na terça-feira pela tarde. A galera da criação trabalhou até uma da manhã pra deixar tudo pronto. Assim que o cliente aprovasse ou rejeitasse a idéia, eles também já estavam preparados para outras madrugadas na agência, pois a campanha iria pra rua na sexta-feira até o final do dia.

Rodney voltou.

- Galera, vocês não vão acreditar...

- O que foi? Ele não gostou? Mas que filho de uma puta, eu sabia! Esses caras não entendem nada de propaganda, agora vai pedir uma campanhazinha qualquer com alguma idéia que ele mesmo teve, e nós aqui nos matando até de madrugada, humpf. – Alex inflava seu ego.

- Não, não, ele achou do caralho, sei lá como, mas achou.

- Ah, eu sabia! Claro que ele achou do caralho, você é que não entende nada de propaganda, tava querendo bem pedir que criássemos uma campanhazinha qualquer que você mesmo teve a idéia, e nós aqui nos matando de madrugada, humpf, nada disso! É pinto na cabeça!

Apesar de, desta vez, não ter jogado contra a criação, o atendimento parecia ser o lado sensato da história. Mas, como nas guerras, a sensatez já não estava presente, o pinto venceu e estaria na rua em alguns dias.

O anúncio só necessitava de alguns ajustes nas informações e logo estaria com a versão final pronta. Se a montagem do pinto engravatado era bem produzida? Bem, vamos mudar de assunto, a agência e o cliente estavam com pressa.

Agora era correr até a produtora para filmar o comercial de TV. Alex e Herbert Maurício foram escalados para acompanhar gravação e edição do comercial. Na quarta passaram o dia todo na produtora.

- Arrumaram um pinto? – Perguntou Alex para Sinval, o produtor escalado para o comercial.

- Sim, minha avó cria galinhas no quintal de casa, trouxe até três pintinhos pra garantir.

- Garantir? Mas garantir o que?

- Eu nunca gravei comercial com um pinto, não sei se eles são temperamentais, vai que ele se estressa e empaca ou morre, sei lá.

- Não, morrer, não! Tá louco? É um pinto cara, imagina a cara da minha mãe se ela sabe que eu fui responsável por matar um pintinho em nome de um porco capitalista dono de faculdade privada.

- Você fez universidade pública?

- Fiz, por que?

- Nada, só pra saber...bem, tá aqui o primeiro pinto.

- Não! Esse é “O” pinto, vamos parar com isso de “primeiro pinto” como se fosse precisar de um segundo, ok?

- Ok, você manda, mas qualquer coisa temos outros dois...aliás, como sabemos se esses pintos são galos ou galinhas?

- Hummm...não faço a mínima idéia, vai ver eles se decidem depois, por enquanto eles são apenas pintos.

- Ele pode ser um frango ou uma franga também. Tem diferença entre pintos de frango e pintos de galinha?

- Sinval, acho que você pode começar a produzir o pinto, não? Ele precisa de gravata e uma pasta, lembra do roteiro?

- Ok, ok, vamos lá.

Sinval levou o pinto para algum canto obscuro da produtora. Já havia manufaturado um tosco conjunto de gravata, pasta e óculos em tamanho especial para o pinto.

Não conseguiram de jeito nenhum encaixar a pasta em baixo da asinha do pinto, mas a gravata ao menos já estava colocada com um pequeno elástico. Sinval então colocou um mínimo de cola super bonder em ponto dos pequeníssimos óculos do pinto. Segurou-o pelo pescoço para encaixar os óculos no bico do bichinho. Não conseguiu, o pinto não resistiu ao aperto no pescoço.

- Puta merda, ainda bem que trouxe mais dois. – Sinval disse para si mesmo.

Tratou de esconder o pinto falecido em uma caixa para que Alex não notasse que o primeiro protagonista já era. Enquanto isso, no estúdio eram filmadas as cenas das mãos quebrando o ovo que era frito, ou seja, o que não tinha pinto dentro.

Com alguma dificuldade, no segundo pinto, Sinval conseguiu colar os óculos. Gravata alinhada, já podiam gravar. E assim o fizeram.

- Olha que bonitinho. – Exclamou o calado Herbert Maurício, o diretor de arte, ao ver o pinto engravatado.

- Muito fofo mesmo, minha mãe vai adorar. – Acrescentou Alex, o redator.


A turma da produtora ia virar a noite para fazer a edição. Alex e Herbert Maurício foram para suas casas no começo da noite e esperariam o resultado final da edição pela manhã, já na agência.

Quinta, depois do almoço, chega o motoboy da produtora com a primeira versão do comercial. Toda a agência (cerca de 9 pessoas, sabe como é empresa começando) reuniu-se na sala dos chefes Rodney (o atendimento) e
Cristino (o dono da grana). Eram tempos ainda de fita VHS, nada de internet em banda larga com vídeos alta resolução em AVI.

(som do comercial sendo exibido por duas vezes seguidas. Encerrava com o som do pinto piando)

- Muito bom, estão todos de parabéns! Nosso primeiro prêmio está chegando! – Cristino não conteve a emoção.

Rodney não tinha palavras.

- Bem, eu...

- Você vai aprovar isso hoje mesmo e ganhar um sorriso do cliente! – Completou o empolgado Alex.

E Rodney seguiu para a FIFUPA, o cliente aguardava ansioso para assistir seu primeiro comercial de TV com a agência nova.

Professor Ptolomeu, o dono da FIFUPA, de tal empolgado com a idéia do pinto, reuniu seus principais funcionários na sala de reuniões para que todos assistissem ao pinto juntos.

Rolaram as apresentações e troca de cumprimentos. Alguma conversa fiada de Rodney contando detalhes falsos de como a produção foi trabalhosa, mas graças às soluções genialmente criativas da agência, todos os obstáculos foram vencidos, resultando no excelente comercial que seria exibido agora.

(som do comercial sendo exibido por duas vezes seguidas. Encerrava com o som do pinto piando)

(som da sala emudecida, todos esperam pela opinião do Professor Ptolomeu, que dará o tom da reunião. Ele se pronuncia chamando sua secretária pelo telefone)


- Dona Leirianny, faça uma ligação pro Glêider...isso, o Glêider da nossa agência...não, não é ex-agência não, é a nossa agência ainda. – O professor desliga e volta-se para Rodney.

- Rodney, foi um prazer conhecer você, qualquer pagamento que estamos devendo pela produção desta...er...campanha, você pode agendar para o começo do mês com o nosso departamento financeiro. Até logo e qualquer problema fale com minha secretária.


Ao final do dia, na quinta-feira mesmo, a FIFUPA retornou para sua antiga agência. Colocou no ar o mesmo comercial veiculado no ano anterior, mudando apenas as informações como datas de inscrição e provas.

O segundo pinto, que teve um par de óculos colado ao seu bico com super bonder, morreu algumas horas após a gravação do comercial estrelado por ele, jamais veiculado.

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Muuah


Ela voltou. Vaca. 184 dias depois, um carnaval no meio. “Descobri que te amo”, é o caralho. Pouco mais de seis meses daquela tarde onde fiquei com o DVD na mão, por mim alugaríamos um blockbuster qualquer, ela preferiu rever Celebridades. No menu de seleção de idiomas surgiu a frase, “precisamos conversar”, que deixasse eu escolher as legendas ao menos. Eu sabia que era um término, não era o primeiro, na vez anterior ficamos uns 20 dias separados, o “precisamos conversar” surgiu no carro quando fui deixá-la na academia nova, uma dessas que oferecem modalidades de aventura indoor para jovens executivos donos de carros de off-road que nunca deixam o asfalto. Devo ter perdido para algum imbecil descedor de paredes.

Mas ela voltou, não, da vez que ela deu pro gerente de banco que fazia rapel ela já havia voltado, agora estou falando da atual volta dela, a que ela passou quase 184 dias longe (um carnaval no meio).

De novo com a conversa mole de “eu não sei onde estava com a cabeça”, essa é fácil, provavelmente entre pernas que não eram as minhas. Não havia boquete como o dela, durante 183 dias lamentei não ser mais eu o escolhido daquela boca, mas mal abri a porta, ela foi pedindo desculpas, rapidamente chegamos ao sofá, não resisti, pra que? Ora, ela não deixou que mais um dia se completasse sem sua boca devidamente encaixada na posição que havia garantido que o palerma aqui não pensaria em outra, talvez nunca mais.

Teve a fase do médico, não da brincadeira de, mas que ela conheceu um, médico. Panacão, do tipo que no supermercado escolhe as marcas próprias do estabelecimento, até o sorvete. Foi ela mesma que me disse quando voltou. Aceitei. Lembremos do boquete.

Ela diz que agora é pra valer. Eu sei que não, mas que jeito, acostumei. Vem, chupa, mil maravilhas por um tempo, depois emudece, conhece alguém, se vai. Vaca, volta.

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Rapidinho


Este post de hoje é um dos mais engraçados da história do Ressaca.

Esta semana também temos nova crítica de Cruzmaltino Bandeco.

Confira também os textos mais recentes, parece que tomamos vergonha na cara e voltamos a escrever com maior frequência.

Volto já.

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More metal


Um sinal de velhice chegando é quando você faz algo de útil nas manhãs de sábado. Por este quesito ainda mantenho minha jovialidade intacta, pois dedico as manhãs de sábado ao saudável dormir e reflexões mais profundas acerca da existência do mal da ressaca. No tempo pré-ateísmo, achei que a ressaca era um castigo de Deus. Em outras épocas cheguei a acreditar que ela só ainda existia devido ao lobby das grandes corporações interessadas em sua manutenção: a indústria farmacêutica que lucra com a venda de medicamentos inúteis como o Engov (não venha com essa conversa de que com você funciona) e as grandes fábricas de papel higiênico. Hoje sou da tese de que a ressaca existe só porque bebemos demais, mas no próximo final de semana posso mudar de opinião, nunca se sabe. “Mais tolo sois tu ao não mudardes de juízo e perseverar a respeito daquele a que tens como inimigo” (horrível essa frase, não? É minha mesmo, acabei de inventar. Tem caras que ficam ricos criando porcarias como essa, tipo o Lenine ou o Zeca Baleiro, outro dia retomo o assunto).

No último sábado, no final da madrugada, por volta de onze da manhã, acordei diretamente para o banheiro a fim de resolver complicações fisiológicas que iam do número um ao dois. Depois tomei banho e café (além de pipocas de microondas também sei fazer café: esquento a água e jogo o pó, fica uma beleza, obrigado Nestlé). Com minha xícara e algumas bolachas da classe cream and cracker acompanhando minha jornada, postei-me frente ao computador para realizar as tarefas digitais básicas do homo-sapiens masculino moderno: e-mail, notícias, Orkut, blogs de sacanagem e MSN. O final da manhã de sábado é um péssimo horário de MSN, geralmente só estão on-line os amigos jornalistas que trabalham em redação e pessoas esquisitas diversas que não saíram na sexta ou que por alguma promessa acordam antes das 10 no sábado. Após cerca de 30 ou 40 minutos de atividades digitais, recebo um link de You Tube que seria o começo da cura da minha ressaca (o passador do link foi Sérgio Nakano, anteriormente citado neste blog por motivo semelhante, visto que tem autoridade reconhecida em achamento de pérolas internéticas).

O Korpiklaani, segundo definição própria, é um grupo alemão de folk-metal. A classificação do subgênero pode variar de acordo o interlocutor, eu mesmo poderia definir a banda em pelo menos outras três vertentes: RPG Metal, Cafona Metal ou Hillbilly Metal. Seja lá como definir o que diabos tocam (rá, um trocadilho!), o primeiro objetivo (involuntário, thanks god) da banda é, sem dúvida, fazer caras como eu rirem do seu passado ou dos amigos e conhecidos metaleiros. Sei que o clipe de Wooden Pints não tem a mesma graça para todo mundo, mas se no início da adolescência você vestia camisetas pretas e bregas de banda ou tinha um irmão de cabelo comprido com pôsteres de outros homens de cabelo comprido pregados nas paredes do quarto, não deixe de assistir.

As vertentes nerds do metal (existe metal não-nerd?) são curiosamente engraçadas por suas letras. Vejamos um trecho do próprio grupo Korpiklaani, a música é Väkirauta, do álbum Tales Along This Road de 2006, a tradução é do portal de letras do Terra:

Este é Kauko, ferreiro da Finlândia
Mestre do aço trabalhado,
Aquele que forjou o poderoso aço,
Aquele que derrotou o Hiisi.


Provavelmente temos aí uma lenda, história ou sei lá o que da cultura nórdica. Cantado na língua original ou em inglês, a coisa não parece tão ridícula, então dá até pra um carinha balançar a cabeça e se afirmar para o mundo demonstrando alguma rebeldia ao escutar a canção. O que sempre imagino (ah, e como seria legal) é uma banda dessa vertente cantando na língua de Camões e Chorão. Imaginemos:

Curupira, defensor!
Pés para trás, cabelos de fogo, cega!
Expurga, afasta
O mal que o homem branco carrega!


Outras letras que o metal curte são as de fundo histórico, onde são contadas grandes sagas. O querido Iron Maiden é campeão nisso, veja trecho de Alexander The Great (claro, sobre Alexandre, o grande):

Um rei Frígio partiu em uma biga
E Alexandre cortou o Nó Górdio
E a lenda dizia que quem cortasse o Nó
Tornaria-se o governante da Ásia


Agora, pensando em contexto heavy metal nacional, que tal Pedro, o primeiro?

E para o bem, felicidade geral
Pedro, libertador, à Portugal
Não regressou

José Bonifácio, a alavanca
Independência, ou morte
Às margens do Ipiranga

Dona Leopoldina ele conquistou
Da sua fama de amante,
Ela se regozijou

(Chorus)
Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon! És imperadoooooor!
(aqui entra o agudo do vocalista)

Como disse certa vez o amigo Fabrício de Paula (um jornalista que trabalha sábado de manhã), alguém já deve ou deveria ter feito um estudo comportamental e antropológico a respeito do metal, uma manifestação que em buracos distintos, de Macapá a Düsseldorf, possui jovens dispostos a escutar e adotar a postura que, preconceituosamente, acham que a música exige. Podemos lembrar de ídolos pop e dizer que estes também possuem alcance global, maior que os grupos metaleiros. Mas com milhões em grana pra produzir disco, videoclipe, comprar matéria, criar factóides e o escambau, qualquer um vira astro e (vide Britney e até barangas como Celine Dion), mesmo assim, duvido que tenham mais fãs do Justin Timbelake em Macapá do que metaleiros na mesma cidade. Quando digo fãs, falo literalmente do fanático, o cara que veste a camisa da banda, fica puto com a namorada porque ela não gosta da música e se dispõe a brigar em caixas de comentários de blog. O metal tem um apelo de auto-afirmação nos jovens que é universal e atemporal, bem como um imenso potencial de fanatização destes. Ok, são grupos restritos de fãs em cada lugar (nunca vi o Angra no Faustão ou alguma atriz da Globo tatuar nome de metaleiro no pé), mas pode reparar que em todo canto, junto de uma igreja evangélica, agência do Banco do Brasil e um boteco com mesa de bilhar, existe um grupo de jovens cabeludos vestindo camisetas pretas e escutando sons barulhentos de arrepiar velhinhas.

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1 minuto de silêncio


Pelo Protótipo.

Nota: o Protótipo era um programa da Rádio Cultura de Belém que divulgava e apoiava bandas e músicos independentes, novatos e veteranos, principalmente paraenses, sem esquecer de mostrar o que acontecia pelo resto do país. As vozes no comando eram de Ângelo Cavalcante, meu amigo e ex-colega de faculdade, e Martina Mendonça, pessoa pela qual eu enfrento rinoceronte, gorila e até barata pra defender. O nome do programa foi uma modesta (e gratuita) contribuição deste que escreve. Quem sabe agora ele não ganhe a web através de podcast ou mude para uma casa comercialmente mais esperta.

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Mais links


Novos links divertidos e fofinhos no menu aí do lado.

Cássio já falava besteiras desde que nos conhecemos na quarta série em 1989. Estamos perto dos 30 e, jesus, continuamos a falar besteiras.

Eu ainda achava que intervenção urbana eram aqueles adesivos e pinturas imbecis que sujam o mobiliário urbano e poluem as cidades, mas esse blog aqui me fez ver a luz.

O Apocalipse Motorizado é blog de um assunto só, mas é impressionante como consegue falar coisas interessantes quase que diariamente. Indispensável para quem mora em uma grande cidade.

O Sampaist faz parte de uma rede internacional de blogs dedicados a cobrir a vida de grandes cidades. Sempre traz dicas interessantes sobre o que fazer na pequena São Paulo. De vez em quando você poderá esbarrar em um texto meu por lá.

A Flávia, bem, a Flávia é muito especial. Ouvimos um monte de coisas parecidas, mas espero não tê-la contagiado com a parte baixa do meu gosto musical. Não farei maior propaganda para não chover Zé Mané em cima.

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O dia depois


- Eu queria vergonha na cara, uma cartela de aspirina e qualquer coisa pro estômago.

- Vergonha na cara não tem.

- Então vê uma barra de cereal.

- Sai tudo por R$3,60

- Tem troco pra 20?

- Tem sim.

- Obrigado, bom dia.

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Aconteceu antes


- Lú, quem é essa amiga na foto?

- Mariana, te interessa?

- Achas que eu não passaria a noite explorando esse corpo?

- Posso apresentar vocês, que tal?

- Faça isso, mas antes podia ter um reforço, não?

- Tipo como?

- Mostra uma foto minha, diz algo bem humorado como “ó, meu amigo Beto quer te pegar, o cara é um puta gostoso, que tal?”

- Acha que vai funcionar?

- Ué, por que não?

- Olha essa barriga aí, acha mesmo que ela vai te achar gostoso?

- Fique sabendo que tem muita mulher que se cortaria pra ter esta barriga por uma noite, certo?

- Verdade, eu mesma cortaria os pulsos, assim não precisaria encarar, duvida?

- Muito engraçado, mas vai rolar uma ajuda ou não?

- Deixa comigo, eu sei o que faço, mas esquece essa conversa de gostoso, ok?

- Mari, meu amigo Beto quer te pegar, que tal?

- Ele é um puta gostoso?

- Ora se...não?

- Ótimo. Ele pensa?

- Sim, em sacanagem, serve?

- Você pegaria?

- Eu cortaria meus pulsos pela barriguinha dele, duvida?

---

- Beto, deixa eu te apresentar uma amiga...ó, Beto essa é a Mariana, Mariana esse é o...Beto?

(slurp, slerp, slurp, slhop)

- Gente, normalmente seriam dois beijinhos no rosto neste primeiro momento..as línguas se conheceriam depois, não?

- Mas antes traz...slurp...uma cervejanlup...slerp, cerveja?

- Certo, alguma coisa, Mari? Mari?

- Você costuma sair beijando na boca qualquer amigo que a Lú te apresenta?

- Quando tem cara de que presta, por que não?

- Mas como você sabe que eu presto?

- Quem disse que você presta?

- Você?

- Eu?

- Sim, não?

- Da pra calar a boca e me beijar?

- Posso pedir mais uma cerveja?

- Pede pra mim também?

- Não estamos bebendo demais?

- E daí?

(slurp, slerp, slurp, slhop)

(slurp, slerp, slurp, slhop)

(slurp, slerp, slurp, slhop)

- Na sua ou na minha casa?

- Desde que o seu vestido termine no chão e a minha cueca em cima do abajur, o que importa?

- Não tenho abajur, vamos pra sua?

(slaaamb, slorbs, slangdom)

- Como abre essa droga de sutian?

- Já tentou o fecho?

(sloorgh, slham, slham, slhopoft)

(schlep!)

- Você bateu na minha bunda?

- Não gostou?

- Por que ainda não bateu de novo?

(schlep...)

- Cansada?

- Acho que bebi demais, se importa de dormirmos?

- Mas ainda nem tiramos a roupa toda...Mari?

- Hum...?

- Dormiu?

- zzzz...o que...zzzz...vozê...achazzzz?

- Porra, mas será possível?

---

- Mari, você por aqui!

- Beto, legal te encontrar...nossa, como você tá bêbado!

(slurp, slerp, slurp, slhop)

- Adoro esse bar!

- Eu também!

(slurp, slerp, slurp, slhop)

- Gosto daqui, mas quero ir embora agora!

- Pra minha casa!

- Sim!

(slurp, slerp, slurp, slhop)

(slurp, slerp, slurp, slhop)

- Porra...não acredito...você broxou!

- zzzzz...

----

- Mari.

- Beto.

- Er...desculpa pela outra noite.

- Tudo bem, bebemos demais, acontece.

- Pelo jeito sempre.

- Mas eu ainda penso em resolver isso.

- Eu havia pensado a mesma coisa.

(slurp, slerp, slurp, slhop)

- Poderíamos tentar um motel hoje.

- Boa.

(slurp, slerp, slurp, slhop)

- Gostei do quarto.

- Só tem um problema.

- Diga.

- Não tenho dinheiro e aqui não aceitam meu cartão.

- Espero que você não esteja dizendo que eu devo pagar.

- Não, não, de jeito nenhum...mas bem que você poderia entender assim.

- Humpf, broxei, vamos.

- Mari, foi mal, eu não conferi a carteira.

- Guarde as desculpas para seu próximo fracasso, comigo ele já foi um sucesso.

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Comecemos


Começar é uma arte. No primeiro dia você chega cedo, muito cedo, é recebido pela tia do café ou pelo boy, geralmente os encarregados de chegar antes de todos. O primeiro constrangimento: explicar que é seu primeiro dia. “O fulano já chegou? Ainda não? É que eu vou trabalhar com ele, to começando hoje”. E você recebe o primeiro olhar superior e aquele pensamento íntimo de “hummm, coitado, mal sabe o que te aguarda”.

Não importa o lugar, as revistas da recepção são velhas e/ou chatas. É difícil segurar o sono. Seus colegas de empresa chegam aos poucos. Dão um acanhado bom dia, meio desconfiado. Você fica ali tentando imaginar quem são aquelas pessoas. A loira gostosa de nariz empinado é o principal assunto no cafezinho, mas é casada e não dá papo pra ninguém. O gordinho mal vestido que recolheu os jornais da recepção deve ser do administrativo e odeia você antecipadamente. Esse aí com camisa de futebol é estagiário. A bonitinha simpática sorridente é a fofinha da empresa, amiga de todos, namora um babaca com o qual briga toda semana, vive chorando. Ah, chegou o piadista, “porra, Pereira, mas esse teu time, heim?”, sempre falando alto.

15 minutos atrasado, finalmente chega seu novo chefe. Bom dia, aperto de mão, seja bem-vindo e vamos até sua mesa. Pelas regras universais, o pior computador é o de quem chega. Obviamente, nada está funcionando direito. O mouse é uma droga, vários programas não estão instalados e o teclado veio na exclusiva cor amarelo-sebo. O telefone, cadê? Qual é, você é novato, agradeça ter pelo menos a cadeira.

Vamos ao tradicional giro de apresentação pela firma. Agora sim estamos falando de constrangimento. Não tente decorar nomes nesse momento, além de ser humanamente impossível você ainda corre o risco de confundir alguém e chamar a Márcia de Eliana sem saber que as duas são inimigas mortais na empresa. Certas pessoas tentarão fazer gracinhas na hora da apresentação, quase com certeza a gracinha não terá graça, mas entre no clima e dê um sorriso amarelinho.

De volta ao seu bunker, provavelmente você receberá tarefas que ainda não conseguirá cumprir, ou porque seu computador não está apto ou porque precisa de informações que ainda não tem como obter. Mantenha a calma porque o meio-dia está chegando e com ele um novo constrangimento: com quem almoçar?

Se o novo chefe lembrar desse detalhe, provavelmente convidará você para almoçar e seu primeiro dia estará salvo. Mas caso ele esqueça, apele para a velha tática de perguntar para o colega mais próximo “qual a boa do almoço por aqui?”. Nesse primeiro dia, nada de frescuras com preço do restaurante ou qualidade da comida, encare qualquer coisa (menos comida japonesa, pois como sabemos, aquilo é qualquer coisa, menos comida).

Lá pelo terceiro ou quarto dia já lhe perguntarão o que você está achando da empresa, prepare uma resposta simpática, mas para não parecer puxa-saco demais, acrescente um “apesar do horário um pouco menos flexível” ou “mesmo com a grande quantidade de trabalho”.

Fique atento às regras não verbais da casa. A bela xícara de café na copa é de uso exclusivo daquele Zé Mané do marketing que passa base nas unhas. Quando convidado para um Happy Hour, não chame por conta própria outras pessoas, evitando elementos indesejados pelo grupo que marcou o chope e também mágoas do tipo “poxa, nem me chamaram”. E por favor, não obrigue ninguém a aturar seu gosto musical até que você perceba qual o gosto dos outros, sem essa de achar que todo mundo gosta de Chico Buarque (não, nem todo mundo gosta, aceite isso) ou Bruno & Marrone (não, nem todo mundo odeia, aceite também).

Nota: em 2006 poucos começaram tanto quanto eu. Trabalhei em 4 lugares diferentes e, segundo minha última conta, compareci a 17 entrevistas, ou seja, média de 4 meses por emprego e 1,4 entrevistas por mês. Se você tiver um pouco de estabilidade sobrando em casa pode e quiser doar, aceito de bom grado.

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Poemas que não deram certo


Sabrina

Sabrina, só sei sair de ti
Salteando sóbrio, como um siri

Salivo, soslaio, teu sexo
Saliência, sofrida, saí

Como um saci, serpenteei
Com uma rasteira, sacaneei
Decidido, voltarei

Sai, Sabrina
Semente, caprina
Suave, menina

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Conto pequenin


Um procurava nova armação de óculos. Outro pretendia comer qualquer coisa na praça de alimentação. O terceiro buscava encontrar a mulher da sua vida. Voltaram do shopping carregando batatas chips e os ingredientes necessários para um jantar mexicano. Também trouxeram chocolates e piadinhas.

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Pá, pá, pá, pá, pá, pá, páááááááá


Desde 1947 o carnaval paraense assiste um concurso de “beleza e fantasia” que hoje em dia é uma das poucas tradições momescas que ainda sobrevive com fôlego em Belém. O “Rainha das Rainhas do Carnaval” reúne jovens gatas e gostosas (isso não é necessariamente uma regra) representantes de clubes sociais da cidade em uma disputa estranha, mas ao mesmo tempo muito divertida, onde ocorrem desfiles das candidatas apresentando suas fantasias e respectivas coreografias e/ou encenações teatrais referentes ao tema escolhido para o traje.

O acontecimento movimenta boa parte da sociedade local e criou uma indústria inusitada em torno do evento. Estilistas, coreógrafos, figurinistas, cabeleireiros, esteticistas, personal trainer, nutricionistas, pais de santo, enfim, é difícil um segmento profissional gay da cidade não participar da entourage de uma (ou mais) candidatas. Sim, entourage. Obter sucesso na disputa significa formar uma equipe em torno da cada uma das Rainhas de clubes que lutam pelo título de Rainha das Rainhas.

Por ser promovido pelo maior grupo de comunicação local, o concurso é, na verdade, um evento comercial com cotas de patrocínio vendidas para a iniciativa privada. Semanas antes do evento propriamente dito, a marca dos patrocinadores é exaustivamente exibida através do aparato midiático criado em torno das rainhas. E tome coquetel de apresentação das representantes de cada clube, visitas das rainhas às sedes das empresas patrocinadoras, chamadas na TV, anúncios no jornal e cobertura na web. É uma espécie de baile de debutantes com plumas e paetês transformado em entretenimento televisivo de massa. Sim, o concurso é transmitido ao vivo na madrugada de sexta-feira, geralmente umas duas semanas antes do carnaval. O horário é um tanto humilhante: depois de todo o “horário nobre da madrugada” da Globo, ou seja, Minissérie nacional, Jornal da Globo, 24 horas, reprise do Jô ou qualquer outra coisa que venha antes do Corujão.

Acompanhar os acontecimentos cafonas e/ou constrangedores de antes do Rainhas já é divertido, mas a noite do concurso é insuperável. Por toda a cidade, tias e vovós se reúnem em frente à TV para acompanhar os desfiles e comentar os detalhes do evento que é realizado no salão do maior clube social de Belém. Em outras casas, grupos de amigos se reúnem para se divertir com o trashismo da disputa (ok, uma chance para você advinhar em qual grupo me enquadro).

A transmissão é uma pérola televisiva do começo ao fim. Começa com um vídeo de apresentação das candidatas em trajes civis, seguido dos desfiles individuais de cada uma já incorporando suas personalidades carnavalescas. A cobertura é digna de Oscar: casal de apresentadores a rigor no palco, narrador, comentaristas especializados e repórteres de campo entrando ao vivo com as últimas dos bastidores. Os jurados, que em outros tempos eram estrangeiros que por uma fatalidade ou outra estavam na cidade, hoje em dia são profissionais de moda, beleza e da própria indústria do carnaval. Durante o concurso, a torcida velada dos telespectadores é por uma eventual queda de candidata, quebra de resplendor de fantasia ou tropeços e gafes na transmissão. Geralmente as três coisas acontecem em todas as edições.

No day after, o clima de mesa redonda futebolística se espalha por Belém. Todos comentam sobre a beleza da candidata do clube X, o acidente com a fantasia da menina do clube Y, a injustiça do resultado e até mesmo gozam amigos e parentes que torciam por candidatas de clubes derrotados. A participação dos dois maiores clubes de futebol da cidade no concurso também contribui para esse comportamento. O Remo, inclusive, é o segundo maior vencedor da história do concurso, já ganhou o título 12 vezes. Já o Paysandu nunca levou o caneco de purpurina pra casa. E acredite, alguns torcedores remistas realmente se orgulham disso.

Este ano o Rainhas acontecerá na madrugada do dia 9 para o dia 10 de fevereiro. Mais uma vez não estarei presente na cidade para acompanhar de perto o certame, a internet diminuirá em parte esta distância.

Para ter uma idéia da história toda, seguem alguns links:

- Site oficial do concurso. Bem completo, tem fotos de todas as vencedoras desde 1947, pequeno resumo de cada ano, vídeos, fotos e notícias sobre a edição atual e anteriores. Ah, vai rolar transmissão on-line.

- Rainhas em desfile no You Tube:
http://www.youtube.com/watch?v=QwfGYbIqwrw

(eu sei que tem um monte de comunidades Rainha das Rainhas no Orkut com mais links pra vídeos no You Tube, mas no momento estou sem acesso ao site de relacionamentos, em breve faço um update por aqui)
Observação pertinente: se você estiver em Belém no dia 9 de janeiro, esqueça o Rainha das Rainhas, esse acontece todo ano e é basicamente a mesma coisa. Aproveite sua noite e caminhe até o Mormaço na Cidade Velha, onde os Zés Manes da Dançum Se Rasgum realizarão o Grito do Rock com bandinhas, cerveja barata e ingressos idem.

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Antonio Variações


Porque uma descoberta de Randy Rodrigues, diretamente d'além mar, não pode ficar restrita a um link de MSN.

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Mas...de novo?


Antes de qualquer outra postagem para o dia de hoje, fica uma pergunta: quem é a cabeça brilhante por trás do marketing promocional daquela bebida energética que diz dar asas para quem a consome? Link do No Mínimo.

Um tempo atrás escrevi isso aqui sobre o marketing da mesma bebida.

O crime organizado e a bandidagem pé-de-chinelo esculacham o país de norte a sul, mas se alguém resolver começar a ajeitar a sociedade, seria ótimo pensar em uma punição pra essa “gente do marketing”.

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