Damaso’s Eating Lessons for Friends*


Você se interessou por uma garota que também escreve.

Diálogo de MSN com o objetivo de comer:

- Ah, você também escreve?
- Sim, poemas. Tenho um blog.
- Ah.....
- Quer ler?
- Sim, claro.

Minutos depois:

- E aí, o que achou?
- Pô, bacana. Você não se utiliza de muitas rimas. Acho que seus poemas refletem muito bem seu estado de espírito.
- É, escrevo mais quando estou triste.
- Poxa, e como uma mulher tão gata assim pode ser tão triste?

Galanteio à altura da literatura da moça.


Diálogo quando se acha que não vai comer, mas ainda resta um tiquín de esperança:

- Ah, você também escreve?
- Sim, poemas. Tenho um blog.
- Ah.....
- Quer ler?
- É, pode ser.

Meia hora depois de ignorar a janela dela piscando no monitor:

- E aí, o que achou?
- Olha, eu não sou a melhor pessoa do mundo pra avaliar poesia, pois não sou um leitor dessa categoria, entende?
- Ah...
- Mas pelo pouco que conheço, acho que você parece ter um bom equilíbrio entre os sentimentos e as palavras.



Diálogo depois de ter certeza que não vai comer e nunca mais quer dividir a mesma mesa de bar com ela:

- Ah, você também escreve?
- Sim, poemas. Tenho um blog.
- Puta que pariu...
- O quê?
- Ah, vai te fudê!

*Contribuição de Marcelo Damaso. Amigo, jornalista e indie não-assumido.

4 comments

Eu não perco tempo no MSN


El amigo de la vecindad diz:
pois é, mas acho que tô chegando ao limite de textos fora do ressaquês

El amigo de la vecindad diz:
vou postar

El amigo de la vecindad diz:
No fundo sou um cara sensível e vou escancarar isso para o mundo

D0da diz:
isso, “eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir”

El amigo de la vecindad diz:
É essa a reação que quero provocar nas pessoas

El amigo de la vecindad diz:
esse mundo tá muito cinza

El amigo de la vecindad diz:
acho que essa é a minha missão

D0da diz:
talvez a nossa

D0da diz:
talvez o ressaca deva ser um blog para melhorar o mundo

El amigo de la vecindad diz:
isso cara, esse é o espírito

D0da diz:
salve a Sussuarana

El amigo de la vecindad diz:
elas estão em vias de extinção e as poucas que sobraram entraram num processo crônico de depressão

D0da diz:
só querem saber de escutar los hermanos

El amigo de la vecindad diz:
essa história do Orkut dedurar quando a gente olha a página dos outros tira nosso direito de xeretar

El amigo de la vecindad diz:
Tá no site. Não briga comigo

D0da diz:
é só desativar seu mané

D0da diz:
o meu está desativado desde sábado

El amigo de la vecindad diz:
e as pessoas não saberão que estive nas páginas delas?

D0da diz:
não, não vão saber

D0da diz:
mas tu também não vai mais saber quem te acessou

El amigo de la vecindad diz:
Nossa, o que é a tecnologia!

D0da diz:
o que é a natureza, exclamação.

El amigo de la vecindad diz:
É algo que está ao nosso redor. Repara só

El amigo de la vecindad diz:
Rapá, desativei. Sem pagar nada e sem trauma

El amigo de la vecindad diz:
esse turco é um gênio da raça

D0da diz:
quero um desses aqui em casa, se ele souber instalar chuveiro elétrico eu até beijo

El amigo de la vecindad diz:
rapá, dizem que eles são craques nesses mistérios elétricos das residências.

El amigo de la vecindad diz:
dizem até que eles desmontam um radinho de pilha e transformam num controle remoto

D0da diz:
em istambul ninguém compra tv com controle

D0da diz:
li no almanaque do escoteiro mirim

El amigo de la vecindad diz:
mas isso é porque o profeta sempre foi totalmente contra os radinhos

El amigo de la vecindad diz:
nunca se soube o porquê

D0da diz:
dizem que foi numa partida entre o XV de Hamallah e o Atlético Jericó. Muhammad, quinzeno-ramallense fanático (único adjetivo disponível para torcedores árabes), ficou puto com um pênalti não marcado

El amigo de la vecindad diz:
Cara, mas convenhamos, eu vi essa imagem e não foi pênalti. foi bola na mão

El amigo de la vecindad diz:
um roubo do juiz, que teve os lábios cortados em praça pública depois do jogo

El amigo de la vecindad diz:
cara, no texto "E Daí" tem uma porrada de comentários em inglês que tão na cara que são spams. O que fiz pra essa perseguição?

D0da diz:
ainda entras naqueles sites de zoofilia com marsupiais?

El amigo de la vecindad diz:
não, porra, isso faz um tempão. Descobri que aquilo tudo era montagem

D0da diz:
e o que fizeste com o canguru inflável?

El amigo de la vecindad diz:
er...ah... foi muito caro, resolvi guardar, mas que fique claro que é um canguru fêmea

D0da diz:
eu sei, vi a bolsa

El amigo de la vecindad diz:
claro, sabe como é mulher, não larga a bolsa pra nada

El amigo de la vecindad diz:
Miguxo, vou indo. Obrigado pelas palavras amigas

D0da diz:
disponha viu, um beijo enorme

El amigo de la vecindad diz:
ô rapaz, outro

3 comments

Já nas bancas



Alabama, Tenesse e Idaho voltando pela Augusta


Maldito momento em que as pochetes saíram de moda. Ter de carregar cigarro, isqueiro, chave de casa, carteira e dois celulares nos míseros e apertados bolsos da calça jeans é uma manobra delicada. Outro dia explico porque uso dois celulares.

Com os bolsos avolumados e desconfortáveis, saio de casa em busca de diversão. Antes do destino final, uma escala estratégica em bar próximo da avenida paulista onde alguns amigos estão reunidos. No telão do estabelecimento, um DVD de Zeca Pagodinho anima os presentes. Logo após, outro DVD compilando clipes de Cher e variadas musas pop menos cotadas, mas bem mais gostosas que a mãe de Rocky Dennis.

Passo a noite chamando Neto de Júnior e tentando convencer as pessoas de que era uma boa me acompanharem ao show do Matanza, “vocês não vão gostar, eu garanto”. Por motivos diversos, perco todos os amigos para programas paralelos. Resolvi seguir o plano original e continuar sozinho.

Já meio bêbado, caminho pela Augusta no sentido centro. As belas garotas que cambiam sexo por dinheiro lançam olhares em minha direção e até ensaiam alguns chamados. Minha situação financeira não permite tais aventuras, mas para me sentir melhor, procuro imaginar que as moças não estão fazendo isso pensando unicamente no conteúdo de minha carteira e sim no de minha cueca. Encho o peito de orgulho e entro na fila razoavelmente grande do buraco, digo, do local onde o concerto musical terá lugar. O segurança pede minha identidade, lisonjeado, puxo da carteira o documento que comprova que possuo nove anos a mais que a idade estabelecida por lei para que eu freqüente tal ambiente.

Entrando no local, digo, buraco, tomo a primeira providência, antes mesmo da primeira cerveja: aliviar as tensões renais no banheiro. Ainda não são uma da manhã e os vasos já estão tomados pelo resultado do consumo excessivo de álcool, feijão e macarrão, acho.

A seleção musical é meio estranha. Logo após Highway To Hell do AC/DC, entra Juicebox dos Strokes, gosto de tudo, mas a mistura é no mínimo inusitada. Depois de balançar um pouco a cabeça e beber mais umas duas cervejas, começo a análise do ambiente. Machos feios por toda a parte, camisas do Motorhead, algumas dos Ramones, mulheres feias, algumas gatas, a maioria com namorado. Gostar de rock não é fácil.

Antes do Matanza, uma bandinha de country-rock (des)anima o público. É o momento em que as poucas mulheres bonitas do local dançam com espantosa empolgação. Já em considerável estado de embriaguez, tento ensaiar alguns passos acompanhando-as, arranco alguns sorrisos, um telefone (o meu próprio, que caiu do bolso) e perco uma lata de cerveja pela metade que foi levada por uma garota de camisa do Sex Pistols possuidora de exclusivo modelo capilar Pavão-em-pânico-encontra-Elke Maravilha.

Jimmy London, Donida, China e Fausto sobem no que podemos chamar de palco. Finalmente, o show que eu esperava para assistir desde o dia em que baixei por curiosidade uma música chamada “Ela roubou meu caminhão” no Soulseek de alguém, no distante 2003. Agora estou aqui, com todas as letras decoradas na ponta do murro, esperando para perder a voz berrando e provavelmente torcer meu pé na porradaria tradicional em frente à banda.

Após uma breve presepada instrumental, Jimmy manda o público à puta que pariu e começa cantando “O último bar”, a melhor música da banda em minha machista opinião. Ainda seguindo o planejamento de partir para o foda-se, resolvi jogar-me no meio do quebra-pau, que em shows menos agitados também é conhecido pelo inocente nome de “roda de pogo”, mas que aqui tinha um grau de violência um pouco acima da média. Recebi alguns chutes, dezenas de empurrões, cerca de duas ou dezoito pedaladas, mas consegui descontar tudo, não sei se nos autores originais das agressões. Ainda agüentei a execução de “Pé na porta, soco na cara” no meio da confusão, mas precisava repor a lata de cerveja que a muito havia voado pelos ares em busca de seu destino final: provocar o nascimento de um galo em cabeça alheia.

Já com nova cerveja nas mãos, resolvo postar-me em posição mais distante do palco, por um lado pensando no acesso ao bar, por outro em minha própria saúde. A sucessão de hits continua, o pula-pula, espanca-espanca, chute nos bagos-chute nos bagos do público também. Começo a perder a voz, mas finjo que não é comigo. Ao meu redor, a visão do inferno: homens, muitos, por todos os lados e suados como porcos. As mulheres parecem ter fugido para local mais afastado e com índices mais seguros de testosterona. O Matanza se despede com sei lá que música, mas eu devo tê-la cantado. Rola um bis com “Ela roubou meu caminhão” e “Interceptor V6”, uma ode à macheza, gritada por todos os presentes em uníssono.

O aperto do local só era suportável durante o show. Assim que a apresentação termina, saio rapidamente de volta à mítica Rua Augusta. Feliz e embriagado, caminho malemolente pela calçada cantando “A volta do malandro” do Chico (Eis o malandro na praça outra vez / Caminhando na ponta dos pés...). Subo alguns quarteirões de volta à Paulista. Converso com algumas moças, aquelas mesmas que cambiam sexo por dinheiro.

- Você é linda, mas eu não tenho dinheiro. Na verdade, mesmo que eu tivesse, não pagaria, porque você merece com amor.

- Te fode porra, to trabalhando!

Confiro na carteira e percebo que possuo reais suficientes para bancar uma confortável volta de táxi. Enfim, foi bom o show.

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