Adeus, blogger


Devido aos problemas e bofofós informáticos do Blogger, este blog agora atende em novo endereço:

bloda.wordpress.com

O arquivo de posts antigos foi todo transferido e, ao longo dos próximos dias, novidades tecnológicas cheias de bossa serão implementadas.

Avise os amigos e as pessoas de quem você não gosta.

Até!

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Comentários tratantes


Estou com problemas no sistema de comentários do Blog.

Eu sei que pouquíssima gente comenta nisso aqui, mas como ultimamente notei a falta até mesmo destes poucos comentários, mês passado pedi a criação de uma comissão encarregada de estudar o problema. Após uma profunda investigação, o relatório final apontou que sim, o sistema de comentários deste blog realmente não está funcionando.

Não faço a mínima idéia de como resolver isso, se você entende alguma coisa de blogs, HTML e quiser me ajudar gratuitamente, puxe papo no MSN (doda.doda@globo.com) ou mande e-mail (doda.doda@gmail.com).

Meus agradecimentos só não serão eternos porque sou mal agradecido.

Beijos.

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Entrevero


Percebia que tinha boa aparência quando alguma senhora de respeito sentava ao seu lado no assento do ônibus. Elas poderiam escolher tantas outras pessoas do veículo, mas optavam pelo rapaz que inspirava maior confiança ou menos ameaça. Não significava muita coisa, mas era um mínimo agrado ao seu ego que logo mais sofreria um abalo.

Ao descer do coletivo, caminhou mais duas quadras, longas. Compridas como o tempo que, sabia ele, seria jogado no lixo em poucos minutos.

- Oi. – Ele disse.

- Não vamos mais nos falar, né? – Ela queria apenas a confirmação.

- É, não.

- Até quando?

- Não sei, até passar.

- E se não passar?

- Um dia passa, espero.

Foi sua última viagem naquela linha. Não precisou mais daquele trajeto para nada. Na verdade, passado algum tempo, nem lembrava mais que realizava aquele percurso com certa freqüência. Seguiu seus deslocamentos com respeitáveis madames sentando ao seu lado.

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Reset


Um próximo capítulo bárbaro de violência urbana acontecerá em breve. Eu, você, todos sabemos. A turma que sai proferindo todo tipo de bobagem nessas horas também sabe. Alguns até têm uma idéia do que poderia ser feito pra amenizar a coisa, mas não vão fazer porque dá um trabalho que só vendo.

É irresponsabilidade anunciar qualquer solução que não passe por uma reorganização geral da sociedade e, particularmente, não acredito que isso venha a acontecer (tanto a reorganização da sociedade quanto o debate em torno dela). Não adianta a Veja vir com discursinho de direita indignada, listando medidas práticas anti-violência receitadas por especialistas. Essa a gente perdeu. Aliás, não perdemos, apenas deixamos de ganhar.

O DVD pirata na esquina, a escola de samba patrocinada pelo crime organizado desfilando no horário nobre, o playboy “do bem” cheirando pó no banheiro da boate, a entidade estudantil que se sustenta vendendo carteirinha de meia-entrada para não estudantes, a simpatia disfarçada da classe média com a brutalidade policial, a magia do você-sabe-com-quem-está-falando?, a eterna busca do pouco trabalhar pelo muito a ganhar. Tudo, tudo está devidamente conectado. Se você descobrir onde é o reset, não hesite, aperte imediatamente.

O país foi construído de maneira tosca e por uma maioria de irresponsáveis que se acham espertos e, que surpresa, continua exatamente assim. A situação que acompanhamos hoje é apenas a evolução natural de como o Brasil foi alicerçado. Reze para que a próxima vítima não seja você ou alguém da família.

---

Comentário 1: lição resumidinha e bem fácil para entender porque o nosso problema de violência urbana não será resolvido em dois, dez ou vinte anos: Elite da Tropa.

Comentário 2: isso aqui é só ingenuidade ou mais uma insinceridade publicitária?

Comentário 3: acabo de visitar o Inagaki e ele também escreveu sobre o mesmo assunto hoje. Sempre bom.

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Rooock


12 de junho de 2005, era um domingo. Dia dos namorados, eu sem a minha namorada, ou melhor, a minha não queria ser minha, enfim, não existia namorada nessa data. Após um apoteótico Wander Wildner na noite anterior, show promovido pelos amigos da Dançum Se Rasgum, chegava a hora dos Autoramas. O palco era o mesmo, o do Café com Arte, uma espécie de Circo Voador paraense destes anos 00. O trio carioca faria seu terceiro show em Belém, o segundo pelas mãos do folclórico e desaparecido produtor Alex Zamba, o Corujinha, que merece uma edição do Saturday Night Live em sua homenagem.

Era a segunda vez que eu acompanhava um show dos Autoramas. Era a segunda vez que eu tinha certeza de ter feito um excelente negócio ao adquirir um ingresso para a apresentação deles. Assistir esse tipo de show em Belém era uma experiência única. O público dificilmente passaria de 300 incautos e a maioria destes eram meus amigos. Era uma festinha fechada, melhor ainda, uma festinha fechada com uma puta banda tocando na sua frente.

Fast Foward para São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007. Waleiska, grande amiga paraense, está deixando Sampa e voltando para a nossa terrinha quentinha. Sua despedida da cidade calamitosa foi nesse sábado, 10, num bar em Pinheiros. Eu pretendia beber só um pouco, justamente para chegar inteiro no show do Autoramas logo mais à noite. Como esperado, não consegui cumprir meu objetivo. Tomei um porre daqueles onde começo a emitir opiniões inconvenientes a respeito de temas polêmicos, como depilação íntima feminina.

Mesmo em lamentável estado físico, eu e mais 4 amigos insistimos em continuar a jornada rumo ao Inferno – não o bíblico, mas o da rua Augusta, local onde aconteceria o show da banda carioca. No caminho até lá, Lily Allen animava o passeio no carro com o hit fofinho “Smile”. A coreografia cometida no interior do veículo não foi repetida ao vivo e entrou na lista universal de constrangimentos a evitar.

Já no clube Inferno, a espera pelo show foi longa. Como é tradição nos buracos roqueiros da paulicéia, a discotecagem do lugar era uma interpretação equivocada do DJ sobre o que ele acha que as pessoas gostariam de escutar na ocasião. Excetuando o Guab, residente do Milo Garage, e alguns outros DJs com melhor feeling da pista, esperar por um show em certos lugares é um anti-clímax. Talvez seja proposital, não sei.

De muito vazio, o lugar passou para agradavelmente cheio em cerca de uma hora. Quando a banda é mais conhecida, como era o caso do Autoramas, a fauna feminina costuma ser mais variada. As moderninhas de cabelo repicado estavam por lá, mas outros tipos mais “comuns” e não menos interessantes também disputavam meus pouco cobiçados olhares. Ah, como são lindas essas alternativas paulistanas.

Duas da manhã, finalmente Gabriel (guitarra e voz), Selma (baixo) e Bacalhau (bateria) começam a torpedear suas músicas sobre a platéia. Autoramas é surf music, punk, jovem guarda. Banda redondinha, boas letras, músicos experientes, hits excelentes, acessíveis tanto para os momentos mais românticos do punk metido a besta quanto para uma auto-afirmação tardia da paty metida a transgressora. É o tipo de banda que faz você entender o que é um show bom. Nada de pose blasé pra disfarçar som ruim, pretensões intelecto-vocais ou apologias depressivas. Só de Autoramas, o líder Gabriel tem 10 anos, o cara sabe muito bem o que faz. A qualidade do show é de uma sinceridade que me comove. Pode parecer exagero, mas quando vejo uma apresentação dessas eu me derramo mesmo, porque a quantidade de shows de rock ruins que circulam pela noite paulistana só perde em número para as profissionais da noite nas calçadas da Augusta.

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No busão


- Bom dia senhoras e senhores, não quero incomodar sua viagem, mas apenas anunciar uma sensacional oportunidade que você tem de adquirir por somente cinqüenta centavos a Maxi Goiabinha ou Maxi Chocolate da Bauducco, duas por um real! Muito sabor por pouquinho dinheiro, você não vai perder essa, até porque, não é só isso! Nã, nã, ni, nã, não: além de levar uma Maxi Goiabinha ou Chocolate por somente cinqüenta centavos, duas por um real, você ganha um e-mail! Dá pra acreditar?! Essa é pra melhorar o humor em qualquer engarrafamento, é sabor, é delícia, é tecnologia que não acaba mais, tudo por somente cinqüenta centavos! Ah, e se levar duas Maxi Goiabinha ou Chocolate por apenas um real, você ganha dois, eu disse dois e-mails! E então, quem está dentro dessa?

- Eu quero duas Maxi Goiabinha - por apenas um real, mas como funciona o negócio do e-mail?

- É pra já freguês! Ó, aqui as suas duas Maxi...nessa folha o senhor escreve o seu endereço de e-mail que ainda hoje os dois e-mails grátis estarão lá quentinhos...

- Mas eu achava que era pra ganhar duas contas de e-mail, não é isso?

- Não, não, conta de e-mail o senhor faz grátis no Hotmail, Gmail, Yahoo. O que estou lhe dando é a oportunidade de ganhar, literalmente, dois e-mails, ou seja, duas mensagens de e-mail, entende?

- Ó, taí a folha, pega a sua caneta...er, e sobre o que são as mensagens?

- Ah, aí é surpresa, o senhor vai ver. Bom dia e bom trabalho.

- Mas...

- Bom dia pessoal, bom trabalho a todos, obrigado motorista, obrigado cobrador!

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Procurando carro


Vendedores de carro usado são curiosos. Existe um guarda-roupa padrão para esta categoria profissional. É um estilo bicheiro light. Camisa de manga comprida enrolada até o cotovelo (geralmente um modelo de uma ou duas estações anteriores) para dentro da calça jeans azul-careta. Cinto preto ou marrom com fivela dourada e sapato social, também preto ou marrom (depende do cinto). O relógio é sempre de pulseira de metal, imenso e um pouco frouxo no pulso. Cordão grosso de ouro e os óculos Stallone Cobra completam o figurino.

Os jargões da profissão também guardam alguns atrativos interessantes, como por exemplo, os adjetivos atribuídos aos veículos.

“Este era de gerente de banco”. E daí? Gerentes de banco, por acaso, não perdem a data das revisões?

“Carro de mulher, pode confiar”. Deus me livre! Não conheço uma única dona de carro que troque o óleo na quilometragem correta ou não raspe laterais nas colunas da garagem.

“Esse aqui está tão bom que eu ia comprar pra minha esposa”. Sai pra lá então! Não sei qual o estado do seu casamento.

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Me irrita que eu gosto


*Também disponível no leitoso Ressaca Moral.

Lost
Quando Arquivo X encerrou suas atividades como assunto televisivo mais chato de todos os tempos, Lost chegou como quem não queria nada e tomou da antiga patuscada nerd-alienígena o troféu de “não agüento mais as pessoas falando sobre isso”. E haja comentário do 8º episódio da segunda temporada, de especulações sobre quem seria o misterioso fulano de tal ou o que um urso polar estaria fazendo em uma ilha de clima tropical. Pior é quando a série passa na Globo e ganha um monte de novos fãs impressionados com “esta fantástica aventura” e falando todas as bobagens que você já escutou meses antes dos seus amigos que acompanham a série na TV a cabo ou baixando da internet. Em 2008 será muito pior, pois a Globo exibirá a temporada com o Actor in a Supporting Role Rodrigo Santoro.

Comerciais de cerveja
Não são apenas as micoses de pele que brilham no verão. Esta também é a época onde as cervejarias despejam na mídia tudo aquilo que despejamos no banheiro quando bebemos demais o produto que elas vendem. É hora das piadinhas de borracharia com gostosonas burras em geral e dos personagens zés manés que optam por outras cervejas que não aquela do comercial. Este ano o troféu “Não precisa ofender minha inteligência, o governo já faz isso” vai para a Kayser e sua campanha ridícula do baixinho pegando as famosas. Clichê, batido e ainda por cima chamando o consumidor de idiota jogando na mídia o falso namoro com a Karina Delícia de Piercing Bacchi. Falando nisso, o prêmio “Ei, leitor idiota, vendemos a capa para uma campanha publicitária, mas você não vai notar” fica para a Caras, veículo que divulgou o tal romance como se fosse verdade.

Sushi
Sem nada decente para comer, resta ao japonês passar a vida inteira concentrado inventando maravilhas como o Playstation e a mais bizarra programação de TV do mundo (mas os efeitos da comida ruim também se manifestam em outra parte da população, vide os quadrinhos e desenhos animados). O que espanta é esse tipo de alimentação, que não pode ser chamada de comida, ganhar cada vez mais espaço em nações altamente avançadas sócio-economicamente como a brasileira. Pior do que o Sushi em si, são pessoas conversando sobre comida japonesa. “Eu a-m-o temaki”, “prefiro sashimi” , “ah, já eu gosto mais de vodakú” e, pior do que tudo isso, são pessoas comendo “naquele rodízizio japa ó-t-i-m-o” falando sobre Lost.

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Breve guia de boas maneiras em SP


"Como saber se a garota é amadora ou profissional nas calçadas da Augusta, agora tomadas por boates modernas – as profissionais saem sempre mais em conta, juro."

Do Xico Sá, no No Mínimo.
Post inteiro aqui.

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Caso do piu


A história a seguir é baseada em fatos reais. Os nomes de pessoas e empresas envolvidas no desenrolar do blá, blá, blá foram trocados e/ou omitidos por questões de segurança.

O cliente era uma faculdade privada. Mais uma destas que primeiro pensam na sigla para depois escolher o que ela significa. Desentenderam-se com a agência anterior uma semana antes da abertura das inscrições para o vestibular do começo do ano. Chegaram segunda-feira na agência em que eu trabalhava, queriam a campanha completa (jornal, rádio e TV) pronta até sexta. Prazo apertado não é novidade pra quem trabalho nisso, então vamos lá.

Começa a tradicional associação de idéias. Vestibular lembra desafio, escolha, calouro, trote. Trote, era isso, vamos por esse caminho da alegria pela aprovação.

- Mas e depois da festa pela aprovação vem o que? - Rodney, o atendimento da conta e um dos donos da agência, pergunta.

- Ora, aí está a diferença de quem optou pela FIFUPA - respondeu Alex, o redator, emendando - na FIFUPA você não fica só naquela farra da aprovação de pintar a cara, quebrar ovo na cabeça, não, não. O calouro FIFUPA sabe que fez uma escolha com algo mais, uma escolha de conteúdo que vai fazer a diferença no seu futuro.

Herbert Maurício, o diretor de arte da campanha, puxa então o primeiro layout.

Ovos. Vários deles, inteiros, enfileirados e arrumados, lembrando o trote da aprovação no vestibular, o quebra-quebra de ovos na cabeça do calouro. Em destaque, no centro do anúncio, um dos ovos estava com a casca rompida e visivelmente vazio. Supostamente saído deste ovo, um pintinho amarelinho, trajando gravata e segurando uma pasta executiva. Era a representação lúdica do vestibulando que optou pela FIFUPA. Título do anúncio: “Passar no vestibular é fácil, o importante vem depois”. Mais simples, direto e estúpido impossível.

- Er...mas...é um pinto, não? – Rodney, o atendimento, demonstrava seu ceticismo a respeito da peça.

- Exatamente, um pinto! O cara que escolhe a FIFUPA é esse pinto! E não somente um calouro vazio...sacou? Vestibular, festa, ovos na cabeça, ok. Mas e depois? Ora, depois o aluno FIFUPA vai fazer a diferença no mercado de trabalho, será bem sucedido, um ovo que deu certo, ou seja, um pinto! – Alex estava muito empolgado.

- É isso aí. – Completou o genial Herbert Maurício, que havia enriquecido a cor amarelo-ouro do pinto no Photoshop “pra dar uma idéia de riqueza”.

Mostraram o roteiro do comercial de TV. Câmera fechada em uma frigideira no fogão. As mãos de alguém quebravam um ovo na borda da frigideira e logo depois o fritava. O locutor dava as primeiras dicas no off. “Passar no vestibular é muito fácil”. Vinha o pulo do gato: as mãos tentavam quebrar outro ovo para fritá-lo, mas este simplesmente não se rompia, mostrando que tinha “algo mais” ali dentro. Entravam as imagens da faculdade, alunos estudando, laboratórios, professores qualificados, inscrições abertas do dia tal ao dia tal, logomarca da FIFUPA. Cortava novamente para a cena do fogão e...vejam só...nosso amigo pinto estava lá, feliz e saracoteante com sua gravatinha, pasta e óculos. A locução fechava o reclame com chave de ouro: “...Vestibular FIFUPA. O importante vem depois”.

Rodney seguiu apavorado para o ciente ainda na terça-feira pela tarde. A galera da criação trabalhou até uma da manhã pra deixar tudo pronto. Assim que o cliente aprovasse ou rejeitasse a idéia, eles também já estavam preparados para outras madrugadas na agência, pois a campanha iria pra rua na sexta-feira até o final do dia.

Rodney voltou.

- Galera, vocês não vão acreditar...

- O que foi? Ele não gostou? Mas que filho de uma puta, eu sabia! Esses caras não entendem nada de propaganda, agora vai pedir uma campanhazinha qualquer com alguma idéia que ele mesmo teve, e nós aqui nos matando até de madrugada, humpf. – Alex inflava seu ego.

- Não, não, ele achou do caralho, sei lá como, mas achou.

- Ah, eu sabia! Claro que ele achou do caralho, você é que não entende nada de propaganda, tava querendo bem pedir que criássemos uma campanhazinha qualquer que você mesmo teve a idéia, e nós aqui nos matando de madrugada, humpf, nada disso! É pinto na cabeça!

Apesar de, desta vez, não ter jogado contra a criação, o atendimento parecia ser o lado sensato da história. Mas, como nas guerras, a sensatez já não estava presente, o pinto venceu e estaria na rua em alguns dias.

O anúncio só necessitava de alguns ajustes nas informações e logo estaria com a versão final pronta. Se a montagem do pinto engravatado era bem produzida? Bem, vamos mudar de assunto, a agência e o cliente estavam com pressa.

Agora era correr até a produtora para filmar o comercial de TV. Alex e Herbert Maurício foram escalados para acompanhar gravação e edição do comercial. Na quarta passaram o dia todo na produtora.

- Arrumaram um pinto? – Perguntou Alex para Sinval, o produtor escalado para o comercial.

- Sim, minha avó cria galinhas no quintal de casa, trouxe até três pintinhos pra garantir.

- Garantir? Mas garantir o que?

- Eu nunca gravei comercial com um pinto, não sei se eles são temperamentais, vai que ele se estressa e empaca ou morre, sei lá.

- Não, morrer, não! Tá louco? É um pinto cara, imagina a cara da minha mãe se ela sabe que eu fui responsável por matar um pintinho em nome de um porco capitalista dono de faculdade privada.

- Você fez universidade pública?

- Fiz, por que?

- Nada, só pra saber...bem, tá aqui o primeiro pinto.

- Não! Esse é “O” pinto, vamos parar com isso de “primeiro pinto” como se fosse precisar de um segundo, ok?

- Ok, você manda, mas qualquer coisa temos outros dois...aliás, como sabemos se esses pintos são galos ou galinhas?

- Hummm...não faço a mínima idéia, vai ver eles se decidem depois, por enquanto eles são apenas pintos.

- Ele pode ser um frango ou uma franga também. Tem diferença entre pintos de frango e pintos de galinha?

- Sinval, acho que você pode começar a produzir o pinto, não? Ele precisa de gravata e uma pasta, lembra do roteiro?

- Ok, ok, vamos lá.

Sinval levou o pinto para algum canto obscuro da produtora. Já havia manufaturado um tosco conjunto de gravata, pasta e óculos em tamanho especial para o pinto.

Não conseguiram de jeito nenhum encaixar a pasta em baixo da asinha do pinto, mas a gravata ao menos já estava colocada com um pequeno elástico. Sinval então colocou um mínimo de cola super bonder em ponto dos pequeníssimos óculos do pinto. Segurou-o pelo pescoço para encaixar os óculos no bico do bichinho. Não conseguiu, o pinto não resistiu ao aperto no pescoço.

- Puta merda, ainda bem que trouxe mais dois. – Sinval disse para si mesmo.

Tratou de esconder o pinto falecido em uma caixa para que Alex não notasse que o primeiro protagonista já era. Enquanto isso, no estúdio eram filmadas as cenas das mãos quebrando o ovo que era frito, ou seja, o que não tinha pinto dentro.

Com alguma dificuldade, no segundo pinto, Sinval conseguiu colar os óculos. Gravata alinhada, já podiam gravar. E assim o fizeram.

- Olha que bonitinho. – Exclamou o calado Herbert Maurício, o diretor de arte, ao ver o pinto engravatado.

- Muito fofo mesmo, minha mãe vai adorar. – Acrescentou Alex, o redator.


A turma da produtora ia virar a noite para fazer a edição. Alex e Herbert Maurício foram para suas casas no começo da noite e esperariam o resultado final da edição pela manhã, já na agência.

Quinta, depois do almoço, chega o motoboy da produtora com a primeira versão do comercial. Toda a agência (cerca de 9 pessoas, sabe como é empresa começando) reuniu-se na sala dos chefes Rodney (o atendimento) e
Cristino (o dono da grana). Eram tempos ainda de fita VHS, nada de internet em banda larga com vídeos alta resolução em AVI.

(som do comercial sendo exibido por duas vezes seguidas. Encerrava com o som do pinto piando)

- Muito bom, estão todos de parabéns! Nosso primeiro prêmio está chegando! – Cristino não conteve a emoção.

Rodney não tinha palavras.

- Bem, eu...

- Você vai aprovar isso hoje mesmo e ganhar um sorriso do cliente! – Completou o empolgado Alex.

E Rodney seguiu para a FIFUPA, o cliente aguardava ansioso para assistir seu primeiro comercial de TV com a agência nova.

Professor Ptolomeu, o dono da FIFUPA, de tal empolgado com a idéia do pinto, reuniu seus principais funcionários na sala de reuniões para que todos assistissem ao pinto juntos.

Rolaram as apresentações e troca de cumprimentos. Alguma conversa fiada de Rodney contando detalhes falsos de como a produção foi trabalhosa, mas graças às soluções genialmente criativas da agência, todos os obstáculos foram vencidos, resultando no excelente comercial que seria exibido agora.

(som do comercial sendo exibido por duas vezes seguidas. Encerrava com o som do pinto piando)

(som da sala emudecida, todos esperam pela opinião do Professor Ptolomeu, que dará o tom da reunião. Ele se pronuncia chamando sua secretária pelo telefone)


- Dona Leirianny, faça uma ligação pro Glêider...isso, o Glêider da nossa agência...não, não é ex-agência não, é a nossa agência ainda. – O professor desliga e volta-se para Rodney.

- Rodney, foi um prazer conhecer você, qualquer pagamento que estamos devendo pela produção desta...er...campanha, você pode agendar para o começo do mês com o nosso departamento financeiro. Até logo e qualquer problema fale com minha secretária.


Ao final do dia, na quinta-feira mesmo, a FIFUPA retornou para sua antiga agência. Colocou no ar o mesmo comercial veiculado no ano anterior, mudando apenas as informações como datas de inscrição e provas.

O segundo pinto, que teve um par de óculos colado ao seu bico com super bonder, morreu algumas horas após a gravação do comercial estrelado por ele, jamais veiculado.

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