Alabama, Tenesse e Idaho voltando pela Augusta


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Maldito momento em que as pochetes saíram de moda. Ter de carregar cigarro, isqueiro, chave de casa, carteira e dois celulares nos míseros e apertados bolsos da calça jeans é uma manobra delicada. Outro dia explico porque uso dois celulares.

Com os bolsos avolumados e desconfortáveis, saio de casa em busca de diversão. Antes do destino final, uma escala estratégica em bar próximo da avenida paulista onde alguns amigos estão reunidos. No telão do estabelecimento, um DVD de Zeca Pagodinho anima os presentes. Logo após, outro DVD compilando clipes de Cher e variadas musas pop menos cotadas, mas bem mais gostosas que a mãe de Rocky Dennis.

Passo a noite chamando Neto de Júnior e tentando convencer as pessoas de que era uma boa me acompanharem ao show do Matanza, “vocês não vão gostar, eu garanto”. Por motivos diversos, perco todos os amigos para programas paralelos. Resolvi seguir o plano original e continuar sozinho.

Já meio bêbado, caminho pela Augusta no sentido centro. As belas garotas que cambiam sexo por dinheiro lançam olhares em minha direção e até ensaiam alguns chamados. Minha situação financeira não permite tais aventuras, mas para me sentir melhor, procuro imaginar que as moças não estão fazendo isso pensando unicamente no conteúdo de minha carteira e sim no de minha cueca. Encho o peito de orgulho e entro na fila razoavelmente grande do buraco, digo, do local onde o concerto musical terá lugar. O segurança pede minha identidade, lisonjeado, puxo da carteira o documento que comprova que possuo nove anos a mais que a idade estabelecida por lei para que eu freqüente tal ambiente.

Entrando no local, digo, buraco, tomo a primeira providência, antes mesmo da primeira cerveja: aliviar as tensões renais no banheiro. Ainda não são uma da manhã e os vasos já estão tomados pelo resultado do consumo excessivo de álcool, feijão e macarrão, acho.

A seleção musical é meio estranha. Logo após Highway To Hell do AC/DC, entra Juicebox dos Strokes, gosto de tudo, mas a mistura é no mínimo inusitada. Depois de balançar um pouco a cabeça e beber mais umas duas cervejas, começo a análise do ambiente. Machos feios por toda a parte, camisas do Motorhead, algumas dos Ramones, mulheres feias, algumas gatas, a maioria com namorado. Gostar de rock não é fácil.

Antes do Matanza, uma bandinha de country-rock (des)anima o público. É o momento em que as poucas mulheres bonitas do local dançam com espantosa empolgação. Já em considerável estado de embriaguez, tento ensaiar alguns passos acompanhando-as, arranco alguns sorrisos, um telefone (o meu próprio, que caiu do bolso) e perco uma lata de cerveja pela metade que foi levada por uma garota de camisa do Sex Pistols possuidora de exclusivo modelo capilar Pavão-em-pânico-encontra-Elke Maravilha.

Jimmy London, Donida, China e Fausto sobem no que podemos chamar de palco. Finalmente, o show que eu esperava para assistir desde o dia em que baixei por curiosidade uma música chamada “Ela roubou meu caminhão” no Soulseek de alguém, no distante 2003. Agora estou aqui, com todas as letras decoradas na ponta do murro, esperando para perder a voz berrando e provavelmente torcer meu pé na porradaria tradicional em frente à banda.

Após uma breve presepada instrumental, Jimmy manda o público à puta que pariu e começa cantando “O último bar”, a melhor música da banda em minha machista opinião. Ainda seguindo o planejamento de partir para o foda-se, resolvi jogar-me no meio do quebra-pau, que em shows menos agitados também é conhecido pelo inocente nome de “roda de pogo”, mas que aqui tinha um grau de violência um pouco acima da média. Recebi alguns chutes, dezenas de empurrões, cerca de duas ou dezoito pedaladas, mas consegui descontar tudo, não sei se nos autores originais das agressões. Ainda agüentei a execução de “Pé na porta, soco na cara” no meio da confusão, mas precisava repor a lata de cerveja que a muito havia voado pelos ares em busca de seu destino final: provocar o nascimento de um galo em cabeça alheia.

Já com nova cerveja nas mãos, resolvo postar-me em posição mais distante do palco, por um lado pensando no acesso ao bar, por outro em minha própria saúde. A sucessão de hits continua, o pula-pula, espanca-espanca, chute nos bagos-chute nos bagos do público também. Começo a perder a voz, mas finjo que não é comigo. Ao meu redor, a visão do inferno: homens, muitos, por todos os lados e suados como porcos. As mulheres parecem ter fugido para local mais afastado e com índices mais seguros de testosterona. O Matanza se despede com sei lá que música, mas eu devo tê-la cantado. Rola um bis com “Ela roubou meu caminhão” e “Interceptor V6”, uma ode à macheza, gritada por todos os presentes em uníssono.

O aperto do local só era suportável durante o show. Assim que a apresentação termina, saio rapidamente de volta à mítica Rua Augusta. Feliz e embriagado, caminho malemolente pela calçada cantando “A volta do malandro” do Chico (Eis o malandro na praça outra vez / Caminhando na ponta dos pés...). Subo alguns quarteirões de volta à Paulista. Converso com algumas moças, aquelas mesmas que cambiam sexo por dinheiro.

- Você é linda, mas eu não tenho dinheiro. Na verdade, mesmo que eu tivesse, não pagaria, porque você merece com amor.

- Te fode porra, to trabalhando!

Confiro na carteira e percebo que possuo reais suficientes para bancar uma confortável volta de táxi. Enfim, foi bom o show.


5 Responses to “Alabama, Tenesse e Idaho voltando pela Augusta”

  1. Anonymous Anônimo

    Duvido que metade disso seja verdade. Logo o Doda.

  2. Anonymous Anônimo

    amiguinho, suas aventuras na cidade estão cada vez melhor.
    ahh! e sobre pochete não estar mais na moda. Pra que serve aquela mochila?? tu só usas quando tem show do U2???kkkkkkkkkkkkkkk
    bjos!!!

  3. Anonymous Anônimo

    Se fosse aqui com míseros reais no bolso vc ganharia um bola-gato no Barraco.

  4. Anonymous Anônimo

    ops, no Barroco. Subconsciente falando mais alto.
    Aproveitando o espaço...quando foi que as pochetes estiveram na moda?

  5. Anonymous Anônimo

    Teu melhor texto até hoje Doda. E ponto.

    Ah, eu uso pochete, e daí?

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