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Um sinal de velhice chegando é quando você faz algo de útil nas manhãs de sábado. Por este quesito ainda mantenho minha jovialidade intacta, pois dedico as manhãs de sábado ao saudável dormir e reflexões mais profundas acerca da existência do mal da ressaca. No tempo pré-ateísmo, achei que a ressaca era um castigo de Deus. Em outras épocas cheguei a acreditar que ela só ainda existia devido ao lobby das grandes corporações interessadas em sua manutenção: a indústria farmacêutica que lucra com a venda de medicamentos inúteis como o Engov (não venha com essa conversa de que com você funciona) e as grandes fábricas de papel higiênico. Hoje sou da tese de que a ressaca existe só porque bebemos demais, mas no próximo final de semana posso mudar de opinião, nunca se sabe. “Mais tolo sois tu ao não mudardes de juízo e perseverar a respeito daquele a que tens como inimigo” (horrível essa frase, não? É minha mesmo, acabei de inventar. Tem caras que ficam ricos criando porcarias como essa, tipo o Lenine ou o Zeca Baleiro, outro dia retomo o assunto).

No último sábado, no final da madrugada, por volta de onze da manhã, acordei diretamente para o banheiro a fim de resolver complicações fisiológicas que iam do número um ao dois. Depois tomei banho e café (além de pipocas de microondas também sei fazer café: esquento a água e jogo o pó, fica uma beleza, obrigado Nestlé). Com minha xícara e algumas bolachas da classe cream and cracker acompanhando minha jornada, postei-me frente ao computador para realizar as tarefas digitais básicas do homo-sapiens masculino moderno: e-mail, notícias, Orkut, blogs de sacanagem e MSN. O final da manhã de sábado é um péssimo horário de MSN, geralmente só estão on-line os amigos jornalistas que trabalham em redação e pessoas esquisitas diversas que não saíram na sexta ou que por alguma promessa acordam antes das 10 no sábado. Após cerca de 30 ou 40 minutos de atividades digitais, recebo um link de You Tube que seria o começo da cura da minha ressaca (o passador do link foi Sérgio Nakano, anteriormente citado neste blog por motivo semelhante, visto que tem autoridade reconhecida em achamento de pérolas internéticas).

O Korpiklaani, segundo definição própria, é um grupo alemão de folk-metal. A classificação do subgênero pode variar de acordo o interlocutor, eu mesmo poderia definir a banda em pelo menos outras três vertentes: RPG Metal, Cafona Metal ou Hillbilly Metal. Seja lá como definir o que diabos tocam (rá, um trocadilho!), o primeiro objetivo (involuntário, thanks god) da banda é, sem dúvida, fazer caras como eu rirem do seu passado ou dos amigos e conhecidos metaleiros. Sei que o clipe de Wooden Pints não tem a mesma graça para todo mundo, mas se no início da adolescência você vestia camisetas pretas e bregas de banda ou tinha um irmão de cabelo comprido com pôsteres de outros homens de cabelo comprido pregados nas paredes do quarto, não deixe de assistir.

As vertentes nerds do metal (existe metal não-nerd?) são curiosamente engraçadas por suas letras. Vejamos um trecho do próprio grupo Korpiklaani, a música é Väkirauta, do álbum Tales Along This Road de 2006, a tradução é do portal de letras do Terra:

Este é Kauko, ferreiro da Finlândia
Mestre do aço trabalhado,
Aquele que forjou o poderoso aço,
Aquele que derrotou o Hiisi.


Provavelmente temos aí uma lenda, história ou sei lá o que da cultura nórdica. Cantado na língua original ou em inglês, a coisa não parece tão ridícula, então dá até pra um carinha balançar a cabeça e se afirmar para o mundo demonstrando alguma rebeldia ao escutar a canção. O que sempre imagino (ah, e como seria legal) é uma banda dessa vertente cantando na língua de Camões e Chorão. Imaginemos:

Curupira, defensor!
Pés para trás, cabelos de fogo, cega!
Expurga, afasta
O mal que o homem branco carrega!


Outras letras que o metal curte são as de fundo histórico, onde são contadas grandes sagas. O querido Iron Maiden é campeão nisso, veja trecho de Alexander The Great (claro, sobre Alexandre, o grande):

Um rei Frígio partiu em uma biga
E Alexandre cortou o Nó Górdio
E a lenda dizia que quem cortasse o Nó
Tornaria-se o governante da Ásia


Agora, pensando em contexto heavy metal nacional, que tal Pedro, o primeiro?

E para o bem, felicidade geral
Pedro, libertador, à Portugal
Não regressou

José Bonifácio, a alavanca
Independência, ou morte
Às margens do Ipiranga

Dona Leopoldina ele conquistou
Da sua fama de amante,
Ela se regozijou

(Chorus)
Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon! És imperadoooooor!
(aqui entra o agudo do vocalista)

Como disse certa vez o amigo Fabrício de Paula (um jornalista que trabalha sábado de manhã), alguém já deve ou deveria ter feito um estudo comportamental e antropológico a respeito do metal, uma manifestação que em buracos distintos, de Macapá a Düsseldorf, possui jovens dispostos a escutar e adotar a postura que, preconceituosamente, acham que a música exige. Podemos lembrar de ídolos pop e dizer que estes também possuem alcance global, maior que os grupos metaleiros. Mas com milhões em grana pra produzir disco, videoclipe, comprar matéria, criar factóides e o escambau, qualquer um vira astro e (vide Britney e até barangas como Celine Dion), mesmo assim, duvido que tenham mais fãs do Justin Timbelake em Macapá do que metaleiros na mesma cidade. Quando digo fãs, falo literalmente do fanático, o cara que veste a camisa da banda, fica puto com a namorada porque ela não gosta da música e se dispõe a brigar em caixas de comentários de blog. O metal tem um apelo de auto-afirmação nos jovens que é universal e atemporal, bem como um imenso potencial de fanatização destes. Ok, são grupos restritos de fãs em cada lugar (nunca vi o Angra no Faustão ou alguma atriz da Globo tatuar nome de metaleiro no pé), mas pode reparar que em todo canto, junto de uma igreja evangélica, agência do Banco do Brasil e um boteco com mesa de bilhar, existe um grupo de jovens cabeludos vestindo camisetas pretas e escutando sons barulhentos de arrepiar velhinhas.


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