A banda - 3


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A banda - 1
A banda - 2

Eu nos vocais, Mirtes na bateria e Beto na guitarra. Ainda precisamos de um baixista. Onde diabos arrumo um? Ninguém responde aos anúncios.

- Por que não tentamos o Orkut?

- Mirtes, arrumar um baixista pelo Orkut, como assim?

- É, pode ser uma boa.

- Mas Orkut é coisa de adolescente, só vai aparecer moleque metaleiro.

- Qual o problema com o metal? – Beto, o guitarrista que um dia sonhou ser o Steve Harris brasileiro, registra sua revolta.

- Nada Beto, só que o heavy metal não faz sentido para quem tem mais de 14 anos de idade, fora isso, quantas vezes eu tenho que dizer que estou montando essa banda pra pegar mulher?!

- Mas mulher gosta de metal – Insiste Beto.

- Claro, a Juliana Paes tem todos os discos do Slayer e a Cléo Pires sempre repete a mesmas depilações pubianas em formato de bode ou cruz invertida.

- Cara, como você é mesquinho. Eu não quero mais fazer parte disso, eu estou nessa pela música, tchau, adeus e may the beast be with you.

- Beto, espera! Não ligue pra esse idiota, ainda podemos ser uma grande banda, vamos ensaiar aquela sua música! – Mirtes tenta contemporizar.

- The God of Thunder Against The Hell Army?

- Bem, eu tinha pensado naquela do dragão, mas tudo bem, podemos ensaiar as duas ainda hoje, que tal?

Nosso guitarrista sossega o rabo e decide ficar graças à diplomacia de Mirtes. Sinto que ainda teremos muitos problemas no futuro.

Sem melhores alternativas, usamos o perfil de Mirtes no Orkut para anunciar uma vaga de baixista em comunidades direcionadas.

Mirtes: Olá pessoal, estou formando uma banda e procuro baixista. É papo profissional com músicas próprias e alguns covers, principalmente do Rappa. Interessados falem comigo.

- Porra, eu te disse que não vamos tocar Rappa!

- Esse é um momento decisivo meu caro, eu e Beto só ficamos na banda se tiver Rappa e algumas das composições dele.

- São épicos sobre deuses e dragões baseados na mitologia nórdica! – Beto protesta.

- Isso mesmo! Só topamos continuar se o repertório incluir Rappa e épicos sobre deuses e dragões baseados na metereologia fórmica ou algo assim!

- É mitologia nórdi...

- Estou no meio de uma negociação aqui! Você pode calar essa boca? – Mirtes interrompe a correção de nomenclatura que Beto pretendia fazer.

Tive de aceitar as condições impostas pelo motim, pois dificilmente outros músicos topariam formar uma banda com um vocalista que não sabe cantar. Ao menos negociamos para que minhas composições sejam a base do repertório, também terei poder de escolha do nome do grupo. Quando estivermos batendo nas praias do sucesso eu convenço os paspalhos a abandonarem essas idéias e seguirem exclusivamente meus planos.

Donita: Oi Mirtes, sou baixista e toco rock. Acabei de enviar algumas gravações minhas para o seu e-mail. Mostre pra galera da banda. Se você curtirem podemos marcar um ensaio.
Ah, e que engraçado seu apelido, achei que você fosse mulher, rsrsrs.

Mirtes: Olá Donita. Gostei das gravações, o pessoal da banda também. Respondi seu e-mail com as informações de dia, local e hora do ensaio. Se estiver ok pra você ligue para o número que está lá.
E MEU NOME NÃO É UM APELIDO, ok?


A idéia de uma baixista mulher me agradou, seria menos concorrência no pega-pega de groupies nos bastidores e ainda atrairíamos mais público para os shows, já que os marmanjos costumam gostar de banda com mulher no meio. Só falta ela ser gostosa, quem sabe até me dê uma chance.

- Olá, então é aqui o ensaio? – Donita chega ao meu apartamento, local de concentração de nossa banda ainda sem nome. É branca, olhos claros, porém castanhos, algumas sardas quase imperceptíveis adornam as maçãs do rosto, que por sua vez rodeiam harmoniosamente um nariz mais delicado que as bonecas de porcelana que minha mãe pinta. Os cabelos são longos e na cor sangue. A calça jeans surrada sugere um belo design de pernas e bunda, nada exagerado. A camisa branca do Motorhead possui estratégicos rasgos que deixam clara a ausência do sutiã.

- É aqui mesmo, você é a Donita? - Tento me controlar para continuar pensando com a cabeça que está acima do meu pescoço e não com a que está abaixo do meu umbigo.

Fazemos as apresentações de praxe, os dois outros patetas não conseguem esconder sua surpresa com a beleza da nova integrante. Provavelmente passarão a ocupar boa parte de seus pensamentos de banheiro com nossa baixista.

Antes do ensaio são trocados alguns diálogos a respeito de qual ônibus foi utilizado no deslocamento até o prédio, falamos sobre como andam quentes os últimos dias e tomamos os restos de uma Pepsi. Os instrumentos são retirados de seus cases, mais alguns comentários a respeito de marcas de guitarra e pratos de bateria. Logo eu já distribuía cópias com a letra de nossa primeira música, a que pretendo tornar nosso primeiro hit, “Pra Comer Você”, que Beto e Mirtes já estavam musicando havia alguns dias.

- Um, dois, três...

Mirtes dá as três batidinhas tradicionais com as baquetas e inicia nossa escalada ao sucesso. Beto solta o riff inicial e Donita senta a mão no baixo. Eu entro com a voz.

- Você não olhava pra mim / Por que diabos escutava o Nahim? / I’ve been the player of the original siiiiinnnnnn....

- Pára, pára, pára tudo nessa porra! – Donita mostra surpreendente impaciência – Que merda é essa, caralho!?

- Er...rock? – Respondo temeroso e quase me mijando.

- Cara, você canta mal pra cacete!

- Tão mal assim?

- Você não faz idéia.

- Então temos um problema?

- Um? Não seja otimista. Olha só pra essa banda: um baterista que tocava em bodas de prata e bailes de debutante, um guitarrista nerd que pelo jeito prefere jogar RPG... - Beto olha para o unicórnio alado que estampa sua camisa preta e murmura algo. – E o que é você como vocalista? Acha que vamos conseguir reunir ao menos dez pessoas para ver um show nosso??

Se ela não fosse mulher eu provavelmente a teria mandado à merda na terceira palavra, mas pensando bem, ela só não foi à merda porque é bonita.

- Olha, sabemos que faltam alguns ajustes e suas idéias serão bem-vindas, mas este tipo de crítica não está sendo produtiva neste momento. – Se eu não estivesse doido pra ver o bico do peito dela por baixo dessa blusa eu definitivamente a teria mandado à merda.

- Posso mesmo dar umas idéias? – Percebo um ar de perversidade nas palavras da baixista. Ela parecia ter feito aquele escândalo para conseguir espaço político na banda, afinal eu não canto tão mal assim. Certa vez consegui nota 80 em um videokê de padaria interpretando O Descobridor de Sete Mares.

- Claro que pode, estamos aqui pra isso: escutar as idéias de todos e chegar ao melhor produto final possível. – Beto e Mirtes se entreolham. Ainda penso no conteúdo abaixo daquela blusinha do Motorhead – Podemos continuar o ensaio? Temos que ganhar ritmo, depois você me dá uns toques vocais – Com duplo sentido, caso você queira entender assim, sua gata do caralho, penso comigo mesmo.

- Ok, então vamos lá...é um, dois, três! – Mirtes puxa o bloco novamente.

- Você não olhava pra mim / Por que diabos escutava o Nahim? / I’ve been the player of the original siiiiinnnnnn.... / Você! Não redigiu uma estrofe! / Você! Me deixou pela Orloff! / You! You don’t know nothiiiiinnnng....


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