De piratas e cristãos de praça


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Alô, Sérgio? Que horas é o show cara, oito ou nove? Pô, é às sete bicho. Puta merda, não diz isso, mas são seis e quarenta, fudeu! Corre que dá tempo!

Merda, táxi ocupado. Porra, outro táxi ocupado. Caralho, mais um, será que toda São Paulo resolveu andar de táxi hoje? Beleza, um desocupado! Boa noite, Sesc Ipiranga por favor. Não conheço, o senhor sabe onde fica? (era só o que me faltava, um taxista que não sabe onde fica um Sesc) ah cara, sei lá, é na rua paralela ao Parque da Independência. Qual parque? O da independência, Museu do Ipiranga, independência ou morte, Dom Pedro, tela do Pedro Américo da capa do seu caderno escolar, saca? Ah, sim, ali perto do museu, já sei mais ou menos.

Nossotros somos Los Pirata de San Pablo, esta és la quinta canción del show. Porra, perdi 4 músicas, vejamos o resto da apresentação então. Estranho o público, onde estão os rockeiros ensandecidos ameaçando saltos do palco e se debatendo em rodas de pogo? Ao invés disso temos famílias, crianças, velhinhos balançando o pé, uma senhora em especial que rodopia ao som de qualquer nota da guitarra ou virada da bateria e uma fã gordinha que não sabia cantar música nenhuma, mas pulava e dançava como uma fã do Menudo matando baratas tontas.

Fim de show, entregues os bombons de cupuaçu e sabores amazônicos diversos aos integrantes da banda. João “Paco” convida ao seu apartamento para a festinha em comemoração ao seu natalício. O transporte até o apartamento no Sumaré foi realizado no carro de Jesus, não o de Nazaré, mas o de sotaque da Pompéia. O educativo traslado serviu para que eu conhecesse as emocionantes ladeiras do eixo Sumaré-Perdizes. Lembrarei de jamais transitar a pé por estes bairros.

Na casa de Paco, conheci Eliot, o primeiro gato do mundo em formato de capivara. Também fui apresentado ao Tom, gato adquirido propositadamente na cor preta para que combinasse com os móveis da sala, nas cores branca e laranja. No desenrolar da festa, uma das interessantes discussões que seguiram foi a respeito da quantidade de beijinhos de cortesia no rosto de acordo com a região do Brasil. Chegamos ao consenso de que em quase todo o Brasil são dois beijinhos, mas os paulistas, mais práticos e frios, cortaram somente para um, já os gaúchos, por alguma insegurança ou tradição, preferem dar três.

Apesar do álcool circulando de copo em copo, percebi que eu era o único bêbado da festa sabe-se lá porque. Antes que começasse a puxar uma roda de pagode ou tentasse dar em cima de uma tia do aniversariante, preferi chamar um táxi.

Boa noite, pode entrar fumando no carro? Pode sim. Pois é, fico na Vila Mariana, Rua Neto de Araújo, dobra na Lins de Vasconcelos que depois aponto o caminho. O taxista olhou minha camiseta. O senhor é roqueiro? Sim, gosto de rock. Vou colocar em uma estação de rock então pro senhor. Ao som de Bed of Roses do Bon Jovi, o motorista continuou: tenho um amigo que começou a escutar rock, ele ia na igreja comigo, mas agora só anda com uma cruz de ponta a cabeça no pescoço, virou anti-cristo, sabe? Todo mundo que escuta rock é anti-cristo, é?

Bêbado até o rabo do S da minha camiseta Star Wars, comentei que o amigo dele devia estar escutando heavy metal e que provavelmente havia se empolgado demais com a mensagem. Então o senhor não é anti-cristo? Não, não sou. No rádio começa a tocar Yellow do Coldplay. Ah, essa é legal, disse o taxista. Mas que diabo, pensei.


2 Responses to “De piratas e cristãos de praça”

  1. Anonymous Anônimo

    Sensacional a história. É o tipo de coisa que a gente pede para acontecer só pra poder contar/escrever.

    Porra, deve ter dado uma fortuna de taxi essa night.

  2. Anonymous Anônimo

    O som de um taxista sempre mostra do que ele é capaz.

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